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Durante 3 anos estarei a fazer uma missão em Timor, pela Ordem dos frades menores capuchinhos, e neste blog tenciono contar todas as minhas aventuras e a percepção que vou tendo dos acontecimentos, tudo de uma forma peculiar que só eu sei viver :D
Olá amiguinhos! Continuando o desenvolvimento da última semana, depois dos aniversários do irmão Rafael e do frei Nicolau, da visita dos familiares do frei Nicolau, das minhas apetitosas refeições e da visita do grupo de estudantes missionários, novos rostos apareceram no meio de nós para nos ajudar na nossa missão.
Na quarta-feira (dia 28) acolhemos, no meio de nós, um jovem, o Carlitos, vindo de Ossu querendo experimentar o sabor da nossa vida capuchinha. Com todo o gosto o acolhemos e connosco permaneceu durante uma semana. É um rapaz interessante, inteligente e com sentido de humor. Participou em todas as nossas actividades e disponibilizou-se para nos auxiliar em tudo o que precisássemos. Que Deus o abençoe e que ele cresça em graça e sabedoria e que o torne um santo frade capuchinho.
No dia seguinte foi dia de mais “visitas”. A chegada de mais dois missionários portugueses, o Camilo e o Pedro, ambos de Braga. O Camilo é engenheiro e o Pedro enfermeiro. Dois rapazes fantásticos, com grande sentido de humor e cheios de vontade de nos auxiliar em tudo o que precisarmos. Têm sido incansáveis… E claro, quando se mistura uma tarde de descanso, 3 portugueses e 3 computadores com internet só pode dar em tarde de vício nos jogos online… Foi assim que nós os 3 passamos a tarde de Domingo, depois de uma manhã a alimentar espiritualmente a comunidade de Laleia…
Como a vida não pode ser só trabalho também é preciso parar para reflectir e escutar a voz de Deus. Sendo assim, no dia 1, os pós-noviços (eu e os 3 timorenses) e o frei Hermano Filipe fomos participar num retiro espiritual, só para religiosos, no colégio salesiano na Diocese de Baucau… O retiro contou com todos os religiosos (ou quase todos) da Diocese de Baucau. É sempre muito bom reencontrar esta grande família de religiosos, de trocar experiências e de nos divertimos como uma grande família de Deus que somos. Para mim o retiro foi mais uma espécie de travessia do deserto (apanhei uma grande seca durante a exposição do tema) misturada com o Pentecostes (o pregador não disse uma única palavra em português, só usou o tétum e duas ou três palavras do inglês)… felizmente Deus abriu-me o entendimento e consegui perceber a ideia da pregação, mas não foi fácil… Depois de enchermos o espirito fomos encher a barriga… um lanche à maneira cheio de coisas boas, só larguei a mesa, porque o pessoal começou a dirigir-se para o local onde iria haver confissões e a celebração da eucaristia… Chegada a hora das confissões quem é que estava disponível para me atender? Um padre indonésio… Ele não falava português, eu ainda não falo fluentemente tétum, só restava uma língua, o inglês… E comecei eu: “Sorry bro, i’m a big sinner” (em português: “Desculpa mano, sou um granda pecador”)… Estou a brincar, confessei-me em inglês, mas num inglês correcto Depois de celebrada a eucaristia veio o grande almoço… Durante o almoço, ao falar com uma irmã timorense que residiu durante dois anos em Portugal, ela contou-me que ficou desiludida com o natal em Portugal… Tanto alarido em volta desta grande festa, tantas cerimónias e expectativas para no final comer bacalhau cozido com batatas cozidas… Habituada a ver, nos dias de festa, muita e variada comida ficou desiludida quando viu a nossa ementa natalícia…
De regresso a Laleia, depois do retiro, paramos numa pousada com esplanada, em Baucau, para tomar algo fresco… Enquanto esperava que fosse atendido reparei num grande alarido a acontecer dentro do estabelecimento era um português, o Carlos, que trabalha lá na construção, que estava a assustar as empregadas da esplanada com um toké, um bicho parecido com o sardão. Elas gritavam, elas corriam, tentavam fugir do português, mas não havia hipóteses, elas só de olhar para a mão do Carlos, que segurava o toké, borravam-se de medo… Pelos vistos o toké em Timor é como as baratas em Portugal, não fazem mal nenhum, mas as mulheres fogem deles como o diabo foge da cruz… As raparigas estavam tão apavoradas que foram esconder-se dentro da casa de banho e uma até desmaiou lá dentro (segundo o que elas dizem)… Entretanto o Carlos decidiu dar umas tréguas às raparigas e largou o toké… dentro da esplanada junto da casa de banho delas… ahahah Depois de meia hora disto lá fui ajudar o Carlos a pegar no bicho que entretanto já tinha apanhado com uma vassourada das raparigas, coitado do bicho… Devolvi o bicho à natureza, as raparigas saíram da casa de banho e ficamos todos à porta da esplanada na conversa. Depois de tudo resolvido, regressamos todos a casa numa viagem tranquila…
Paz e bem amiguinhos! Estaremos juntos na oração e no coração
No dia 4 de Outubro celebramos a Festa de S. Francisco… e no dia 5 também, mas a isso já lá vamos. Tem sido uma semana de festas, quando não são religiosas são populares. Depois de no dia 3 termos celebrado o trânsito de S. Francisco, no dia 4 celebramos a sua festa juntando toda a família franciscana em Baucau, a nova cidade que fui conhecer.
Foi difícil chegar lá, não só pelas estradas que são precárias, mas também por causa de um furo no pneu. 4 homens de volta do carro para tentar descortinar como haveríamos de esticar o macaco para levantar o jipe, visto que era demasiado pequeno (o macaco), e foi a única mulher lá presente que se lembrou de procurar uma pedra lisa para fazer de base, às vezes as mulheres fazem falta… Solucionado o problema voltamos à estrada para nos encontrarmos com toda a família franciscana presente em Timor-Leste. Aquilo é que foi um encontro multi-cultural, com timorenses, indonésios, portugueses, cabo-verdeanos e acho que havia mais um ou dois países representados. A missa foi em português, à excepção da homilia que foi em Tetum, ou seja, fiquei a olhar pó teto…Mas pelo menos, durante o almoço, deu para falar português e crioulo (como tinha saudades desta língua)
De tarde regressamos a casa, sem nenhum sobressalto, felizmente, e com uma esperança de chuva. Ainda caíram umas gotinhas, mas nem para molhar a ponta do dedo serviu, esperemos que venha mais… Bem-aventurada a minha madrinha que me ensinou a assar frango no churrasco, foi o que tive a fazer para preparar o jantar de festa com a população de Laleia. À noite houve a tradicional dança nos festejos da Nossa Senhora de Laleia. As músicas são sempre as mesmas, não sei como não se cansam…
Acabei o dia completamente esgotado, até porque devido ao fuso-horário, acordei às 4h da manha, hora de Timor, sem sono… resultado: 1-0 para o Porto… sim, tive a ver o jogo, grande James…
No dia 5 fomos festejar a festa de S. Francisco na paróquia de S. Francisco de Assis que fica no meio da montanha onde nenhum carro consegue lá chegar… Isto é que foi andar… entre montes e vales e vales e montes… parecia que estava num paraíso… mas ainda em construção… A igreja é feita de canas de bambu e chapa e só tinha um banco… tinha, já não tem… a homilia foi tão longa que o pessoal que estava sentado nesse banco adormeceu, inclinou-se para trás e o banco não resistiu, quebrou-se todo… e as quedas não se ficaram por aí, eu ia caindo abaixo de um banco de plástico por duas vezes, a minha colher do almoço foi parar ao chão com um salto que parecia que tava a mergulhar numa piscina, uma rapariga tropeçou numa pedra quase que ia de dentes… era a ver quem caía mais… no final, ao descer a montanha o pessoal começou a votar quem era o primeiro a cair… felizmente ninguém acertou, mas ainda houve quem tentasse.
Hoje foi dia de falar com a minha família. Sabe bem voltar a ver os seus rostos, os seus sorrisos e ter as conversas da treta, mas indispensáveis num excelente relacionamento familiar. Família adoro-vos, estão presentes no meu coração.
Paz e bem meus amiguinhos! Estaremos juntos na oração e no coração.