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Missão em Timor

Durante 3 anos estarei a fazer uma missão em Timor, pela Ordem dos frades menores capuchinhos, e neste blog tenciono contar todas as minhas aventuras e a percepção que vou tendo dos acontecimentos, tudo de uma forma peculiar que só eu sei viver :D



Quinta-feira, 11.07.13

Hamburger para o almoço? Parece que não é desta...

Olá amiguinhos, tenho uma correcção a fazer. Na publicação anterior referi as actividades como tendo decorrido no mês de Maio, mas enganei-me, tudo decorreu ainda durante o mês de Abril…

Queria partilhar com vocês algo que não estava mesmo à espera que me fosse acontecer, principalmente no ensino superior, mas quero fazê-lo não para me gabar, mas porque é algo que me deixa mesmo muito feliz e recompensado por todo o esforço que tenho feito. Falo das minhas notas do 1º semestre do curso de filosofia:

História da filosofia antiga – 16

Introdução à filosofia – 17

Lógica – 17

Introdução à psicologia – 18

Filosofia do conhecimento – 19

Ética social – 19

Fiquei sem palavras quando vi estas notas. Mas acho que sei porque tenho notas tão altas, não é porque realmente domine a matéria, é mais porque os professores não dominam muito o português e ao olhar para o que escrevi devem pensar “Não percebo bem o que ele escreveu, mas deve estar correcto”, daí as classificações elevadas… {#emotions_dlg.lol}

Continuando com a aventura, No dia 16 de Abril tivemos dupla festa, não só celebramos o aniversário do frei Filipe, missionário em Laleia, como também celebramos o dia da vocação franciscana. De manhã fizemos a nossa pequena celebração, juntamente com as irmãs franciscanas dos sagrados corações e as irmãs concepcionistas ao serviço dos pobres, celebrando a eucaristia e a oração de laudes toda ela relacionada com o franciscanismo, desde cânticos, salmos e leituras retiradas das fontes franciscanas. De tarde, depois do almoço dirigimo-nos todos para Laleia não só para celebrarmos este dia tão importante para a família franciscanas com os nossos irmãos de lá mas também para celebrarmos o aniversário do frei Filipe.

 Em Laleia existe uma regra de ouro, todo o animal (cabra ou porco) que entrar no terreno da paróquia e for apanhado passará a ser propriedade dos frades. E como que por bênção de Deus, dois dias antes destas festividades foram apanhados 6 porcos dentro do recinto exterior da Igreja. Todos eles foram mortos no dia seguinte e cozinhados especialmente para celebrar estas duas festas. Como se pode perceber, o que não faltava à mesa era carne, mas também tínhamos um grande peixe, de meio metro de comprimento (medido por um pescador), massa e arroz… muito arroz. Depois das festas regressamos todos a Tíbar, de noite, com ruas completamente negras da escuridão, onde a única luz que se via eram as dos faróis dos carros que se cruzavam connosco (Por cá só uma rua é que tem postes de iluminação)… Mas voltamos felizes por termos celebrado o dom da vida de mais um irmão. {#emotions_dlg.food}

Quando o superior da fraternidade de Tíbar, o frei Fernando, tomou posse começou a fazer algumas mudanças. Primeiro foi na disposição das cadeiras da capela, removeu algumas que estavam a mais de modo a que pudesse haver mais espaço livre para circulação e por fim foi a mudança da sala de refeições, que antes era na sala de tv e agora passou a ser na cozinha. Como a cozinha é pequena e vento é o que menos há em Timor, as refeições começaram a ficar um pouco desagradáveis devido ao excesso de calor. Para combater esse calor o frei Fernando decidiu abrir uma esplanada mesmo por detrás da cozinha para termos um local fresco para podermos almoçar mais à vontade. Apesar de ser frade e de fazer voto de pobreza, posso dizer que almoço todos os dias “fora de casa”, viva o luxo…{#emotions_dlg.sarcastic}

Era segunda-feira, dia 22, véspera da minha primeira frequência, a disciplina era História da Filosofia Antiga e o tema era “Os pré-socráticos”… Tinha que os saber todos… Tinha a cabeça em águas de bacalhau, tinha vindo a estudar intensamente à quase uma semana e, quando pensava tirar o dia para rever tudo e ter a certeza que estava preparado para o exame marcaram-me uma ida à fronteira de Timor com Indonésia para obter o visto de trabalho… Fiquei desesperado, sabia que durante a viagem não iria conseguir estudar, porque não consigo ler numa viagem de carro, e quando chegasse à fronteira também não iria poder estudar, porque o tempo seria usado para tratar dos documentos, logo não iria estudar nada… que fazer? Fácil, como diz o povo “quem não tem cão caça com gato”, pois eu digo quem não pode ler… ouça… gravei todos os meus apontamentos para o meu MP3 com a minha voz sedutora (ao fim de 5min já estava farto de a ouvir) e assim fiquei tranquilo, porque apesar de estar a viajar ia poder estudar…{#emotions_dlg.dork}

Partimos muito cedo rumo à indonésia, eu, o frei Isidóros e o Rafael, que também ia tratar dos seus documentos. Ainda o sol dormia quando arrancamos. Não comecei logo a estudar, primeiro ainda ouvi umas músicas e conversei um pouco com os meus companheiros de viagem para despertar. A meio da viagem, depois de bem desperto, liguei o meu MP3 com a gravação do que tinha que estudar e comecei a ouvir, repetindo os pontos mais importantes, para ajudar a memorizar a matéria, até que, passados 5min, o inevitável aconteceu… sozinho no banco de trás, estiquei-me todo e… zzzzzzzzzzz… sim, adormeci… Despertei já perto da fronteira e sem nada estudado. Começamos a tratar dos papéis e, depois de subornar o polícia que controla a fronteira de Timor com 270 Dólares, lá entrei na Indonésia (na verdade não tive que subornar ninguém, o meu visto é que tinha expirado à 3meses atrás e eu não o tinha renovado, por isso paguei multa). Estava entusiasmado por entrar na Indonésia, conhecer um novo país e comer um hamburger (eles têm McDonald’s), estou a morrer de desejo por comer um,

o problema é que o frei Isidóros não tinha a mesma intenção. A cidade ficava longe, não tínhamos transporte, porque o carro teve que ficar estacionado na fronteira (também precisa de visto para mudar de país) e não tínhamos quase dinheiro nenhum indonésio (não sei o nome da moeda deles), mas sempre deu para beber uma coca-cola… {#emotions_dlg.snob}

Ainda eram 11h (mais ou menos) quando voltamos a entrar em Timor, agora tudo legalizado. Estávamos prontos para entregar os papéis para receber o visto de trabalho quando nos disseram que o único comandante que nos pode carimbar e assinar o visto de trabalho estava em Maliana e só chegava às 14h. Para um timorense as 14h deles são as 16h num relógio universal… Fomos procurar um restaurante para almoçar e para fazer a digestão demos uma volta pela praia, mas sem mergulho… o meu primeiro mergulho só aconteceria a 2 Junho, mas depois conto-vos essa história… Com as 14h a aproximarem-se metemo-nos no carro e voltamos para a fronteira. Como era de esperar, o comandante ainda não tinha chegado e eu cada vez mais preocupado com a frequência do dia seguinte… com um calor a rondar os 40º, só com meia garrafa de água de 33cl e sem nenhum local com sombra, decidi aventurar-me, pegar nos meus resumos (em papel, que também tinha levado) e comecei a estudar… Lia e relia, tentava explicar todas as teorias de todos os filósofos sem olhar uma única vez para o papel enquanto caminhava de um lado para o outro, feito barata tonta, na fronteira… Ao fim de meia hora nisto fiquei cansado (o sol era mesmo muito) e fui sentar-me junto do Rafael. Maldita hora em que ele me perguntou o que estava a estudar… levou com um ensino de História da Filosofia pré-socrática que ao fim de 15min já estava a perguntar quando me calava…{#emotions_dlg.secret} tive pena dele…

O comandante até nem se atrasou muito, chegou pouco depois das 14:30h, para grande admiração minha. Assinei os últimos papéis e, finalmente, fizemo-nos à estrada, de regresso a casa. Chegado a casa lanchei, bebi um café bem forte e voltei ao estudo, cada vez mais desesperado, não estava seguro para fazer o exame, tinha a certeza que ia reprovar, ainda para mais eu tenho esta maldição a Filosofia de nunca ter tirado positiva em nenhum exame… Chegou o dia da frequência, toda a gente entusiasmada a rever a matéria e eu desesperado a andar de um lado para o outro, com as mãos na cabeça e com único pensamento “eu não sei nada”… Chega a hora do exame, nervoso entro na sala… o professor tarda em aparecer… o tempo passa e o meu nervosismo aumenta… de repente entra o chefe de turma com uma folha na mão e começa a escrever no quadro “Perguntas de exame: A) Diga o pensamento de todos os filósofos naturalistas. B) Diga o pensamento dos filósofos sofistas. C) Diga o pensamento de Sócrates”. Meti as mãos à cabeça, não sabia falar de TODOS os naturalistas e não fazia ideia qual o pensamento dos sofistas… Comecei a bater com a cabeça na mesa (não literalmente) quando reparo numa nota escrita no lado direito inferior do quadro, em Tetum, e que referia qualquer coisa com “livro”. Perguntei o que significava aquilo e disseram-me “O professor disse que o exame era de consulta, desde que as respostas não fossem cópias exactas do livro”… Dei um suspiro de alívio e uma gargalhada enorme… tanto stress e tanta dor de cabeça para no final poder fazer copy-paste do meus apontamentos, que definitivamente não eram iguais aos do livro… No final tive 17… Com isto aprendi uma lição “perguntar sempre ao professor a modalidade do exame, o que se pode e o que não se pode fazer e levar para o exame… poupa-se nas dores de cabeça e no café…” {#emotions_dlg.blink}

Paz e bem amiguinhos! Estaremos juntos na oração e no coração! {#emotions_dlg.heart}

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por missao em timor às 08:48


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