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Missão em Timor

Durante 3 anos estarei a fazer uma missão em Timor, pela Ordem dos frades menores capuchinhos, e neste blog tenciono contar todas as minhas aventuras e a percepção que vou tendo dos acontecimentos, tudo de uma forma peculiar que só eu sei viver :D


Quinta-feira, 21.01.16

O momento mais importante da minha vida, a seguir ao meu baptismo.

Olá amiguinhos. O blog está de volta, finalmente, e para comemorar este regresso quero partilhar convosco o que se pasou comigo no dia 15 de Novembro de 2015, a celebração dos meus votos perpétuos. O texto que vou partilhar não foi escrito por mim, mas pelo frei Américo Costa que reportou, de forma exemplar, todo o acontecimento. O texo foi retirado na íntegra do nosso site www.capuchinhos.org que poderão visitá-lo sempre quiserem. Deixo-vos aqui a reportagem:

 

– Profissão Perpétua de Frei Ricardo Tinoco –

Paranhos, freguesia situada na cidade do Porto, deu à Ordem dos Franciscanos Capuchinhos um rebento da sua terra. Fr. Ricardo Jorge Ramos Tinoco aí nasceu, cresceu, amadureceu e agora colheu os frutos da sua opção vocacional. Testemunhamos o seu sim ao amor de Deus na celebração eucarística dominical de 15 de Novembro de 2015. A celebração festiva, feita com muita simplicidade franciscana, realizou-se na Igreja da Imaculada Conceição, no Amial (Porto), na missa das 11,30 horas, e constituiu um acontecimento marcante para os Franciscanos Capuchinhos e a Comunidade cristã. A Eucaristia foi presidida pelo Fr. Fernando Alberto Pedrosa Cabecinhas, Ministro Provincial, tendo como concelebrantes os padres Fr. Manuel Luís, Fr. Manuel Pires, Fr. Carlos Carvalho, Fr. João Santos Costa, Fr. José Maria Araújo, Fr. Alfredo Teixeira e Fr. Américo Costa. Assistiu como Diácono o Fr. Júlio Cunha Ramos. Também se associaram a esta liturgia: Fr. Vítor Arantes, os jovens Postulantes, Irmãos Noviços, pós-Noviços, outros Irmãos professos que vieram de Barcelos, Lisboa, Fátima e Gondomar, além dos Irmãos da Fraternidade do Porto, e ainda a presença dos Franciscanos Menores, um Irmão timorense de São João de Deus e Irmãs Religiosas, entre outros. Exerceu o ofício de “mestre-de-cerimónias” o Fr. Ricardo Vergílio Marques Soares, e o Grupo Coral de Jovens abrilhantou com muita beleza e arte toda a celebração.

Após a Liturgia da Palavra do XXXIII Domingo do Tempo Comum, fez-se a chamada do profitente, seguindo-se uma breve homilia pelo Fr. Fernando Alberto Pedrosa, que aproveitou a tonalidade das leituras de fim de ano litúrgico, que “falavam de tempos de angústia e de dias de aflição”, para lembrar os atentados de Paris. Mas a mesma Palavra, referiu, “abre um tempo novo de salvação que Deus quer fazer acontecer”, também na vida dos Franciscanos Capuchinhos que estão em mais de cem nações, recordando que “um dos últimos países onde chegaram foi a Timor-Leste, país no qual o Fr. Ricardo Tinoco tem vivido estes últimos três anos”. O Presidente da celebração exortou todos os cristãos a rezarem “por estas vocações de especial consagração ao serviço do Reino”. E concluiu com um desafio: “Que nunca faltem na Igreja rapazes e raparigas que, como o Fr. Ricardo Tinoco, digam: ‘Eis-me aqui’! E que nunca nos falte esta disponibilidade para ouvir o Senhor e responder-Lhe com toda a generosidade do nosso coração”.

 

Seguiu-se o ritual da profissão religiosa, incluindo o canto das Ladainhas (pelo Fr. Manuel Filomeno) e a fórmula da Profissão Perpétua, coroada com o cântico “Com a minha alma a transbordar de gratidão / Por esta escolha que só Tu fazes de mim / A Ti me entrego para sempre e sem reserva: / Aceita-me, Senhor, aceita o meu SIM. Hoje a minha vida / Eu Te dou, Senhor…” (singela melodia de Fr. Acílio Mendes e letra da Ir. Mª da Glória Magalhães, fmns).

 

No final da Eucaristia, tomou a palavra o Fr. Ricardo Tinoco para expressar um vivo e tocante testemunho que a todos sensibilizou, palavras que foram coroadas com uma sonora salva de palmas por toda a assembleia.

O ambiente de festa prosseguiu na Cripta, onde a Fraternidade proporcionou, com a ajuda de vários leigos, um almoço-convívio, onde não faltaram as canções tradicionais portuguesas e também melodias timorenses. Obrigado, Fr. Ricardo Tinoco, pelo teu testemunho vocacional e missionário, e por este dia de intensa comunhão espiritual e fraterna. Cantamos com o «Poverello» de Assis, o santo da Paz: “Louvai e bendizei a meu Senhor, dai-lhe graças e servi-o com grande humildade!”

Dados biográficos

No dia 2 de Junho de 1985 nascia em Paranhos, Porto, Ricardo Jorge Ramos Tinoco, filho de Abílio Assunção Tinoco e Filomena Maria Sousa Ramos, sendo baptizado na Paróquia do Carvalhido (Coração de Jesus) no dia 8 de Setembro desse ano.

Ainda jovem, integrou-se em movimentos cristãos da paróquia do Amial. Pertenceu ao grupo «Nós Unidos» e ao movimento franciscano «Jobifran», no qual viveu imensas experiências de encontro com Deus, aprofundou os seus conhecimentos bíblicos e franciscanos, fazendo amadurecer a sua fé. Foi em 2004, aos 19 anos, que Deus começou a desenhar a sua caminhada vocacional. Passando a estudar na mesma escola que alguns frades capuchinhos frequentavam, o convívio com eles tornou-se mais frequente. Por alturas de Maio desse ano, numa tarde de sábado, Deus falou ao seu coração quando participou num encontro-convívio com irmãos capuchinhos do Amial em casa dos pais do Fr. Hermano Filipe, jovem missionário em Timor-Leste. A resposta do Fr. Ricardo Tinoco foi imediata: desejava seguir os passos de Nosso Senhor Jesus Cristo ao jeito de São Francisco de Assis. Em Setembro desse ano iniciou o tempo de Postulantado, em 2008 deu início ao Noviciado na Ilha Brava (Cabo Verde) e, após a sua profissão religiosa de votos temporários, veio para o Porto para fazer os seus estudos na Universidade Católica Portuguesa. Em 2012 partiu para Tibar (Timor-Leste), a fim de prosseguir a sua formação franciscana e os seus estudos superiores no Instituto de Filosofia e Teologia D. Jaime Garcia Goulart, em Díli. Veio a Portugal para fazer a sua profissão perpétua de Vida Consagrada. Partirá de novo para Timor-Leste a fim de concluir os seus estudos superiores. Em Tibar, além de dar a sua colaboração nessa zona pastoral, lecciona Religião e Moral no Colégio do Coração Imaculado de Maria das Irmãs Franciscanas dos Sagrados Corações.

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Agradecimento e testemunho (O meu discurso de agradecimento)

Bom dia a todos!

Não irei demorar muito no meu discurso de agradecimento, eu escrevi apenas 10 folhas, frente e verso… estou só a brincar, claro, foram apenas 9!!!

Obrigado pela vossa presença e por disponibilizarem uma parte do vosso tempo para se juntarem a mim no momento mais importante da minha vida, a seguir ao meu baptismo. Quero, primeiramente, dar graças a Deus pelo dom da minha vocação. A vida que eu levo, a de frade capuchinho, só é possível se Aquele que faz mover o nosso espírito for Deus.

Muita gente me pergunta como surgiu a minha vocação, como é que, sendo eu um rapaz rebelde, mas sempre bem-educado, traquina e irreverente, sempre pronto para pregar partidas aos outros e que não faltava a nenhuma festa, decidi largar tudo e seguir os passos de Nosso Senhor Jesus Cristo ao jeito de S. Francisco de Assis… Não é fácil explicar, foi algo totalmente místico… Num jantar de convívio com os frades em casa dos pais de um outro frade que se encontra em Timor, o frei Hermano Filipe, eu, literalmente, ouvi a voz de Deus que me perguntou: “Tinoco, olha à tua volta e diz-me o que vez”, “Vejo uns frades capuchinhos que decidiram largar tudo para Te seguir e servir o Teu Povo”, “Muito bem, e não queres tu fazer o mesmo?”… E foi a partir desta interrogação que a minha vocação se iniciou.

Não é um caminho fácil, posso garantir, mas não há outro caminho no mundo que me encha tanto o coração como o de seguir Jesus. Já ri, já chorei, já tive dúvidas, agora mais que nunca tenho certezas, mas sempre, sempre, sempre nunca me senti abandonado por Deus. Era nos momentos mais difíceis da minha vida que eu sentia mais forte a presença d’Ele. Através das palavras de um amigo, de um abraço que do nada alguém me dava, de um sorriso que me faziam esquecer as minhas tormentas e, principalmente, na oração. Deus sempre esteve comigo e eu sempre soube reconhecer a presença d’Ele na minha vida…

Quero também agradecer às minhas duas mães: a minha mãe biológica, que sempre procurou o meu bem-estar e o meu conforto, remando contra mares e marés para que nunca nada me faltasse, especialmente carinho e amor; e quero agradecer à minha outra mãe, a minha tia que, infelizmente, hoje não pode estar cá por motivos de doença, desde criança que ela me acolheu em sua casa, aqui no bairro de S. Tomé e cuidou de mim. Quanto amor, quanto carinho e umas boas sapatadas também, ela me deu. Não tenho palavras para agradecer às minhas duas mães tudo o que elas fizeram por mim, aquilo que sou e os valores que eu tenho devo-lhes tudo a elas. Quero também agradecer ao meu pai que, apesar da distância, procura estar sempre presente na minha vida; aos meus irmãos, por me aturarem, e a todos os que, de alguma forma, se cruzaram na minha vida. Se sou o que sou hoje foi porque vocês me fizeram assim. Sinto-me um privilegiado por vos ter conhecido a todos e por vos ter presente na minha vida.

Quero também agradecer ao grupo coral que cantou de forma magnífica, estão todos de parabéns, merecem uma salva de palmas. E obrigado a todas as pessoas que disponibilizaram uma grande parte do seu tempo (muito mesmo) para que toda esta festa fosse possível. Muito obrigado, a vossa dedicação vale ouro.

Antes de concluir, quero lembrar aqui, hoje, duas pessoas que foram muito importantes na minha vida e que, infelizmente, não podem estar aqui presente connosco, por já terem regressado à “Casa do Pai”: a minha avó paterna, a avó Júlia, e o frei Joaquim Monteiro, muito conhecido entre os frades e na Universidade Católica como “o mestre”. Que descansem em paz.

Por último, mas não menos importante, quero agradecer a todos os frades, aos meus formadores e irmãos que comigo conviveram e convivem diariamente comigo, por todo o empenho, dedicação e paciência também (muita), que tiveram para comigo durante todo o meu tempo de formação e por sempre acreditarem em mim, por sempre acreditarem que um dia eu daria o meu sim definitivo a Deus e à Ordem.

Muito obrigado a todos.

Fr. Ricardo Tinoco

 

Emociono-me sempre que leio este meu discurso de agradecimento, não só pelas palavras, mas pelo sentimento que elas transmitem. Espero que tenham gostado.

Paz e bem amiguinhos! Estaremos juntos na oração e no coração 

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por missao em timor às 09:33

Sexta-feira, 13.02.15

Promoção vocacional

Olá amiguinhos, se na publicação anterior vos falei de como são os meus diálogos com o frei Luan, desta vez irei mostrar-vos como são os meus diálogos com outros seres. Sim, seres, porque estas três peças não são pessoas, são animais. Há um ano que adoptamos um casal de gado bovino e em Outubro do ano passado tiveram a sua primeira cria e todos os três têm nomes próprios. O boi chama-se “Tíbar”, a vaca chama-se “Nina” e o pequenito chama-se “Bambi” (sugerido por mim, mas ainda não definitivo) mas há quem o queira baptizar de “Laleiano”, em homenagem a Laleia onde iniciamos a nossa presença capuchinha, ou de Domingos, por ter nascido a um Domingo.

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 Nina vs Eu – Primeiro round:

Fui alimentar o gado na hora do almoço e veio a Nina ter comigo. Olho para a manjedoura e reparo que só tinham comido metade da comida que lhes tinha deixado de manhã e disse-lhe:

- Mas que vem a ser isto?! É para comer tudo, estão sempre a queixar-se que querem comida e agora não comem? COMER TUDO, não vos dou mais comida enquanto não comerem o que vos dei de manhã. Que é isso? Nós não somos ricos, não podemos desperdiçar comida, ai mau Maria…

E o incrível aconteceu, ela começou a comer o que estava na manjedoura… e comeu tudo…

 

Tibar vs Eu – Segundo round

Fui novamente alimentar os animais. Como a erva verde acabou começamos a dar erva seca que armazenamos e disseram-nos que para os animais a comerem era preciso molhá-la senão não comiam por ser demasiado áspera. Sempre que alguém está a chegar junto deles com o carrinho de mão cheio de comida eles vêm logo a correr para a manjedoura, já sabem o que lhes espera…. Mas desta vez isso não aconteceu, os 3 ficaram deitados na casa deles. Mas quando o Tibar me viu a mexer na comida que estava na manjedoura veio, muito devagarinho, ter comigo numa de ver o que eu estava a fazer. E lá estava ele com a cara virada de lado a olhar para mim de esguelha quando começo a meter-lhes comida fresca. O Tíbar, muito desconfiado, com ar de importante e com muita esquisitice, lá cheira a comida que lhe pus, olha para mim com ar de como quem diz “Achas que eu vou comer isto? Paciência…” vira-me a cara, vira as costas e vai-se deitar na casa dele. E foi aí que percebi que eles não gostam da palha molhada, removi toda a comida que eles tinham na manjedoura e dei-lhes um novo fardo de palha seca. Quando fui dar a refeição seguinte a manjedoura estava vazia… De realçar o ar de importância do boi…

 

Nina vs Eu – Terceiro round

Fui novamente dar-lhes de comer, olho para o curral e só vejo o Tibar e a Nina, o Bambi não o vi. Assustado por não o ver pergunto à Nina:
- Ó amiga, o teu filho onde anda? Onde está o puto?

Ela volta a cabeça para o lado com alguma velocidade como que a dizer “Está ali”. Eu olhei e estava mesmo…

 

Bambi vs Eu – Quarto round

Estava mais uma vez de manhã a alimentá-los com erva seca e enquanto eles comiam eu disse-lhes:

- “Bom, para o almoço vou dar-vos um carro de erva verde e outro carro de Ai-café” (uma árvore típica de Timor que eles gostam muito). E enquanto lhes dizia isso o Bambi ia abanando a cabeça a dizer que sim…

 

Bambi vs Eu – Quinto round

O Bambi está doente, está quase cego. Devido aos vários insectos que andam junto deles, um desses insectos entrou-lhe no olho esquerdo, inflamou-lhe o olho e agora está cego desse olho. Já começamos a fazer um tratamento, mas não temos muita esperança. Antes de ir de férias quis ver como ele estava e fui ao curral deles. Como ele estava muito afastado comecei a chamá-lo como se fosse um cão tipo:

- “Ó pequenino anda cá, anda, anda… anda cá menino, vem a mim, vem… (enquanto mandava beijinhos e batia com as mãos nas pernas, tal como fazemos para chamar os cães).

E não é que ele veio mesmo ter comigo?! Foi tão querido… Foi a minha cena com eles que mais gostei…

 

PS: Deviam ver a cara de orgulho do Tibar quando nasceu o Bambi e eu lhe disse: “Ah seu animal, parabéns, tens aí uma bela espécie ah, muitos parabéns. Grande boi que tu és…” Ele ficou mesmo orgulhoso com estas minhas palavras.

 

Olá amiguinhos, podia-vos contar muitas mais histórias com estes três animais, mas talvez fique para uma outra próxima… Continuando as minhas aventuras por Timor, chegamos ao mês de Setembro. Foi no primeiro dia de Setembro, o pós-noviciado tinha programado ir a Lete-foho, à terra do frei Manuel, fazer promoção vocacional, apresentarmo-nos e dar a conhecer quem são os franciscanos capuchinhos, onde estamos e o que fazemos. A viagem começou muito cedo, por volta das 4h da manhã. Não podia ser pior hora para eu viajar. O meu estômago é tão preguiçoso que o corpo e o cérebro acordam a uma hora e ele só acorda 1h depois. Eu explico: Quando acordo tenho sempre a sensação de ter o estômago fechado e não consigo mesmo comer nada, só passado sensivelmente 1h depois. Ora como saímos às 4h, acabei por sair sem comer nada. Quando o estômago acordou eu já ia avançado na viagem e, devido aos buracos da estrada, o estômago acordou aos sobressaltos, como se estivesse num carrossel. Ele não aguentou a tribulação e eu tive que mandar parar o carro para chamar o Gregório (acho que não preciso explicar o que isto significa). Como o estômago estava vazio, parecia que o que queria sair não era o que estava dentro do estômago, porque não tinha nada, mas o estômago em si… fiquei com tantas dores de barriga que quando cheguei a Lete-foho mal podia andar. Bebi muita água e aos poucos fui ficando bom até que consegui tomar o pequeno-almoço.

Imediatamente combinamos o programa da promoção vocacional com o pároco, o padre Hélio, e decidimos que depois da missa das 8h teríamos uma sala disponível para falar com os jovens. Aceitamos apenas jovens com mais de 15 anos, por serem os que já têm idade para entrar no seminário e aceitamos tanto rapazes como raparigas (as Irmãs Clarissas também precisam de vocações). A missa foi presidida pelo Frei Isidóros e a igreja estava completamente cheia, deviam caber, pelo menos, 600 pessoas.

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Antes da bênção final veio o nosso primeiro momento, a nossa apresentação à comunidade. Alinhamo-nos todos em frente do altar e começamos a nossa apresentação dizendo o nosso nome, a nossa origem e, para os estrangeiros (eu e o frei Isidóros), há quanto tempo estávamos em Timor. Depois da apresentação cantamos uma música que tínhamos vindo a ensaiar há uma semana. A ideia seria cantá-la sem papel à frente de forma a podermos olhar para o público enquanto cantávamos, mas durante os ensaios reparamos que apenas o frei Manuel é que sabia as estrofes de cor. Para grande surpresa e humilhação nossa, que acabou por ser um momento de alegria, o grupo coral sabia cantar o cântico melhor que nós e também não tinham papel à frente. Isto tornou-se mais humilhante para nós, porque o cântico, de nome “Tamba hadomi” (“Porque o amor”), foi uma tradução feita pelo frei Fernando de um cântico português escrito por uma irmã religiosa.

Depois da missa deu-se o encontro com os jovens.

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Num momento descontraído e familiar o frei Isidóros apresentou um vídeo motivacional de um jovem Sul-americano, sem braços, filho de um pai tocador de viola que queria aprender a tocar viola tão bem como o pai, mas sem braços como o iria fazer? Pois bem, como a viola se toca com os dedos e não temos dedos apenas nas mãos, ele decidiu aprender a tocar viola com os pés. Praticou durante anos, cerca de 8h por dia, não foi fácil aprender, mas ele nunca desistiu até que conseguiu atingir o seu objectivo. E o sucesso foi tanto que numa das visitas do Papa S. João Paulo II à América do Sul o jovem tocador foi convidado a contar a sua história para o Papa e a tocar-lhe uma música. Foi tão lindo e comovente que o Papa chorou. Não há limites para a vontade e capacidade humana, se queremos muito algo temos que lutar por isso e acreditar, mesmo que nos demore uma vida inteira a ser realizado. Tudo é possível, temos é de lutar e acreditar em nós próprios. A reunião continuou connosco a falarmos um pouco mais especificamente das nossas actividades em Timor, quem foi S. Francisco de Assis e qual a especificidade do carisma franciscano, especialmente da Ordem franciscana capuchinha. O encontro terminou com um cântico “Desde que sou capuchinho” (Desta vez todos sabíamos de cor). Para que os jovens também pudessem acompanhar o cântico, ensinamos-lhes a parte do “la la la la la…” que é a mais difícil de se aprender… Terminamos o nosso encontro com uma oração e, já no exterior, tiramos uma foto de grupo.

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Após todas as fotos tiradas fui à sala buscar o material e ouço o sino das 12h a tocar. Ao sair da sala reparo que não há movimentação nenhuma de pessoas, sendo que à 5min atrás o que mais havia eram pessoas a circular. Começo a olhar para o pessoal que estava cá fora e todos estavam estáticos, não mexiam nem os olhos, pareciam estátuas. Fiquei assustado e a começar a pensar que tinha entrado na Twilight zone, que algo tinha congelado as pessoas e que, por algum milagre, eu teria sido o único sobrevivente. Até que ouço a voz de um homem a dizer qualquer coisa em Tétum, olho para cima e vejo o catequista a rezar e de seguida toda a comunidade a responder e foi aí que percebi tudo, a população estava a cumprir uma tradição há muito tempo perdida pelos portugueses de rezar o Angelus à hora do meio-dia. Rejeitei toda a teoria da conspiração que tinha pensado inicialmente e repreendi-me por não ter acompanhado o povo na oração. A gente está sempre a aprender coisas novas e esta foi mais uma lição para mim.

Depois do almoço regressamos a casa. O meu regresso foi mais tranquilo e o estômago, já recuperado, não se queixou mais. Já o frei Isidóros não pode dizer o mesmo, visto ter-se esquecido do seu portátil na casa paroquial. Felizmente deu fé a meio da viagem, mas ainda tivemos de esperar cerca de uma hora para que o pároco viesse ao nosso encontro para nos devolver o portátil. 

 

Foi uma aventura que deu frutos. Neste momento temos um aspirante a viver uma experiência connosco que se sentiu chamado após a nossa visita à sua comunidade. Esperemos que este fogo inicial que ele sentiu nunca se apague.

 

Paz e bem amiguinhos! Estaremos juntos na oração e no coração. 

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por missao em timor às 14:41

Domingo, 28.09.14

Eis-me aqui, Senhor, para fazer a tua vontade.

Olá amiguinhos, o frei Luan é um frade sacerdote natural do Vietname, mas a residir, desde os 15 anos, na Austrália. Ele veio para Timor em Agosto para apoiar a nossa missão de implementação da nossa Ordem em Timor-leste. Com uma fácil adaptação a Timor e fácil aprendizagem do português e do tétum, as nossas aventuras juntos começaram logo a surgir, deixo-vos aqui o relato:

 

Frei Luan vs frei Tinoco – Primeiro round:

(Uns dias depois de ele ter dito que gostava de Noddles)

Eu – (mostrando-lhe uma caixa) – Frei veja o que eu comprei.

Ele – (a olhar para a caixa com ar de quem não está a perceber nada) – E isso é o quê?

Eu – Veja bem…

Ele – Nop, ainda não percebi…

Eu – Comprei Noodles para amanhã ao jantar…

Ele – E?!

Eu – São Noodles, não é você que gosta de Noodles?

Ele – Ya, não é mau…

Eu  – {#emotions_dlg.snob}

 

Frei Luan vs frei Tinoco – Segundo round:

(No dia seguinte)

Eu – Frei como é que se cozinham os Noodles?

Ele – Vê as instruções na caixa…

Eu – Está em holandês, não percebo nada e a única pessoa que conheço que me poderia traduzir isto para português está no Brasil e de certeza que a esta hora não está ligada no fb… Você não sabe cozinhar Noodless?

Ele – Não, só comê-los…

Eu - {#emotions_dlg.snob}

 

Frei Luan vs frei Tinoco – Terceiro round:

(Eu na cozinha a preparar o almoço, entra o frei Luan na cozinha)

Ele - Tlm em cima do balcão e não estas a ouvir musica?
Eu - Nem sempre tenho vontade, hoje prefiro o silencio. Prefiro perder-me nos meus pensamentos...
Ele - Ah (faz uns segundos de silencio) Estas doente?
Eu - Não, estou com sono {#emotions_dlg.snob}

 

Frei Luan vs frei Tinoco – Quarto round:

(Eu a cozinhar. Entra o frei Luan na cozinha, mais uma vez)
Ele - (Ar feliz e admirado) Já não estas doente?

Eu - ?!
Ele - Estás a cozinhar com musica...
Eu - {#emotions_dlg.snob}

 

Frei Luan vs frei Tinoco – Quinto round:

(Enquanto lavávamos a louça após o almoço)

Eu – Frei, pode fazer café, por favor?

Ele – Café? Sim, é bom, faz.

Eu – Você fazê-lo.

Ele – (Pega na thermus do café e abana percebendo que tem liquido lá dentro e abre) Este não presta, este frio…

Eu – Eu sei, é para você fazer o café

Ele -  Mas este não, este frio…

Eu – CAN YOU MAKE SOME COFEE FOR US PLEASE?

Ele – Ah! Para eu fazer café… pode ser… tens de falar de vagar para eu perceber melhor…

Eu – Eu estava a falar devagar… {#emotions_dlg.snob}


Não tenho hipóteses com este frade, mas estou entusiasmado com a vinda dele para cá, muito divertido, sempre à procura de criar o melhor ambiente possível para a fraternidade e incansável no trabalho, tanto pastoral como na quinta.

 

Mas continuando a minha aventura, Chegamos provavelmente ao dia mais importante para mim da minha vinda para Timor, o dia em que renovei os meus votos religiosos e disse, com toda a firmeza, “Sim, quero continuar a fazer parte desta grande família que é a Ordem dos frades menores capuchinhos e continuar a servir a Deus através dos caminhos que Ele traçou para mim e seguir a Jesus Cristo ao jeito de S. Francisco de Assis”.

Foi no dia 1 de Agosto de 2013, quinta-feira. Após o almoço, eu, o frei Fernando, o frei Isidóros, o frei Rafael, o frei John e o frei Agostinho rumamos para Laleia para realizarmos a nossa tão esperada renovação. Renovei juntamente com o frei Rafael, frei John e o frei Agostinho. Chegamos a Laleia por volta das 16h e começaram aí os preparativos para a renovação. A nós não nos diziam nada, nem deixavam que nos envolvêssemos nos preparativos. Ainda tentei voluntariar-me à força, mas o frei Fernando disse logo “Tem calma, está tudo controlado, só preciso que preenchas a acta das profissões, mais nada”. Fui escrever a acta, estava com tanto medo de me enganar ao copiar o texto a partir de um texto modelo que em vez de copiar o texto frase a frase copiava letra a letra… durou a terminar, apesar de não preencher uma página inteira, mas consegui… {#emotions_dlg.clown}

Os outros rapazes seguiram-me o exemplo, mas mais descontraídos, pelo menos aparentavam… chegou o momento solene, foi por volta das 18h. A fraternidade de Laleia reuniu-se, juntamente com os que vieram de Tibar, na capela da fraternidade para a celebração da Santa Missa e o acto pelo qual eu muito aguardava, a renovação dos votos. Enquanto a hora da missa não chegava eu fui meditando em todo o percurso da minha vida como franciscano capuchinho, desde o momento em que senti o chamamento divino até este dia… Várias fases se passaram, momentos de grande alegria, de grande espiritualidade e de entrega na continuidade da obra salvífica de Deus eu vivi, mas também momentos de tristeza, alegria e dúvida. De nenhum destes momentos me arrependo de os ter vivido. Se os momentos altos de alegria e proximidade com Deus me fizeram ver onde está a verdadeira felicidade, os momentos de tristeza e angústia me provaram que Deus nunca me abandonou em nenhum momento da minha vida fazendo-me sentir o que é verdadeiramente a perfeita alegria. Dúvidas sempre as terei, mas a certeza de que Deus me chamou para o servir na simplicidade franciscana e no amor a todas as criaturas faz-me superar qualquer dúvida, qualquer tristeza, qualquer angústia, faz-me sonhar e voar, faz-me ser livre para a todos me dar, faz-me deixar todo o conforto e segurança de um lar, de uma família, para abraçar um mundo, um mundo que nos acolhe de braços abertos, um mundo ao qual damos tudo o que temos e somos, pois sabemos que o fazemos por amor Àquele que o criou, Deus Pai Todo-Poderoso, criador do céu e da terra, de todas as coisas visíveis e invisíveis. Em 2004 plantei a semente quando aceitei o desafio de Deus para me tornar Seu servo na Ordem dos frades menores capuchinhos, agora estou a recolher os frutos de 30, 60, 100 (Cf. Mt 13,8) “Larguei” uma mãe, para abraçar todas as mães do mundo, “deixei para trás” quatro irmãos, para me tornar irmão de toda a humanidade, neguei dar netos à minha mãe, mas tornei-a mãe de 11mil filhos, pois como disse S. Francisco “A mãe de um frade é a mãe de todos os frades” e neguei fazer a minha vontade, para fazer a vontade daquele que me criou e formou, Nosso Senhor Jesus Cristo.

Após a celebração dirigimo-nos todos para o refeitório para continuar a festa com um jantar. O frei Max até matou um galo em nossa honra… coisa rara… {#emotions_dlg.inlove} É nesta altura que percebo a riqueza de ter irmãos… {#emotions_dlg.happy}

 

 

Espero que tenham gostado.

Paz e bem amiguinhos! Continuaremos juntos na oração e no coração. {#emotions_dlg.heart}

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por missao em timor às 04:35

Sexta-feira, 11.07.14

A ginástica do brinde

Olá amiguinhos! Estou de volta. Os dois meses de silêncio não se deveram a férias, quem me dera, foi mesmo devido ao excesso de actividades e também aos cortes de electricidade que aconteciam precisamente quando tinha uma tarde livre. {#emotions_dlg.snob}

 

Após eu ter encharcado as noviças das irmãs Concepcionistas e as ter picado todas durante as limpezas do local onde se irá realizar o curso de catequese, na última semana de Julho, chegou um dia muito esperado na fraternidade, o aniversário do frei Fernando. Foi já a meio do curso, no dia 25, e como a fraternidade só estaria toda junta à hora do jantar, foi precisamente nessa hora que se comemorou a festa.

Como responsável maior da missão capuchinha em Timor, superior da fraternidade, mestre de pós-noviços e nosso “pai” de família, o frei Fernando teve uma festa em grande. O bolo foi comprado, o jantar fomos todos que preparamos. Como convidados tivemos a fraternidade de Laleia, que compareceu toda, os missionários leigos, que na altura era só a Joana, e 3 catequistas que estavam a dormir na nossa casa para poderem participar no curso.

 

Fui eu o protocolo. Foi um enorme desafio, primeiro porque eles são muito organizados nestas coisas de aniversários, tal como já vos relatei nos aniversários anteriores, e segundo, porque os discursos foram em tétum e eu no final de cada discurso tinha que dar um resumo do que foi dito… mas lá me safei, até porque os discursos não variaram muito, todos elogiaram a entrega incansável do frei Fernando à missão, à comunidade de Tibar e à fraternidade. Um frade que não nega ajudar o próximo e que não sabe perder tempo, está sempre a trabalhar. Um exemplo para mim e para a fraternidade de Tibar que tem o prazer de o ter como nosso superior. Como não podia deixar de ser a festa teve brinde. Fui eu o organizador e voz de comando. O brinde foi assim: Todos com o copo de champagne cheio na mão direita já previamente levantada e comecei eu as ordens, devagar para que os timorenses pudessem perceber a brincadeira. As vozes de comando eram:

Vai a cima:

Vai a baixo:

Vai ao centro:

Tchim tchim:

Dá a volta:

 

Vai à esquerda e vai à direita:

 

 

 

 

Cheirar:

Vai à barriga – Levar o copo à barriga, mas da parte de foratrás das costas

Esconder– Esconder o copo atrás das costas

Saborear – molhar os lábios

Mete para dentro:

E lá comecei a dar as ordens de vagar: “vai a cima, vai a baixo, vai ao centro………….” E voltei a repetir, mas já mais rápido “vai a cima, vai a baixo, vai ao centro………….” E depois de ter confirmado que todos percebiam recomecei , mas mais acelerado “vai a cima, vai a baixo, vai ao centro, vai à esqueda, vai a baixo, vai a cima, vai à direita, vai ao centro, dá a volta, vai a cima, vai a baixo, vai ao centro, vai a barriga, vai a cima, vai a baixo, vai a cima, vai a baixo, vai ao centro e cheira…………………………………….” “Vai a cima, vai a baixo, vai ao centro, vai à esqueda, vai a baixo, vai a cima, vai à direita, vai ao centro, dá a volta, vai a cima, vai a baixo, vai ao centro, vai a barriga, vai a cima, vai a baixo, vai a cima, vai a baixo, vai ao centro e esconde atrás das costas……………………………………………..” “Vai a cima, vai a baixo, vai ao centro, vai à esqueda, vai a baixo, vai a cima, vai à direita, vai ao centro, dá a volta, vai a cima, vai a baixo, vai ao centro, vai a barriga, vai a cima, vai a baixo, vai a cima, vai a baixo, vai ao centro e saboreia………………….” Foi aí que olhei para os catequistas e: “hein, hein, hein, koko deit, koko deit, la’os atu hemu hotu….” (trad: Espera, espera, espera, é só para saborear, não é para beber tudo já…)… e cansado de usar a mão direita troquei para a esquerda e recomecei “Vai a cima, vai a baixo, vai ao centro, vai à esquerda, vai a baixo, vai a cima, vai à direita, vai ao centro, dá a volta, vai a cima, vai a baixo, vai ao centro, vai a barriga, vai a cima, vai a baixo, vai a cima, vai a baixo, vai ao centro e cheira…………………………………….” “Vai a cima, vai a baixo, vai ao centro, vai à esquerda, vai a baixo, vai a cima, vai à direita, vai ao centro, dá a volta, vai a cima, vai a baixo, vai ao centro, vai a barriga, vai a cima, vai a baixo, vai a cima, vai a baixo, vai ao centro e esconde atrás das costas……………………………………………..” “Vai a cima, vai a baixo, vai ao centro, vai à esquerda, vai a baixo, vai a cima, vai à direita, vai ao centro, dá a volta, vai a cima, vai a baixo, vai ao centro, vai a barriga, vai a cima, vai a baixo, vai a cima, vai a baixo, vai ao centro e saboreia………………….” E desta vez todos só saborearam… e como um brinde não se faz com a mão esquerda (regra minha) voltei a trocar as mão e recomecei: “Vai a cima, vai a baixo, vai ao centro, vai à esquerda, vai a baixo, vai a cima, vai à direita, vai ao centro, dá a volta, vai a cima, vai a baixo, vai ao centro, vai a barriga, vai a cima, vai a baixo, vai a cima, vai a baixo, vai ao centro e cheira…………………………………….” “Vai a cima, vai a baixo, vai ao centro, vai à esquerda, vai a baixo, vai a cima, vai à direita, vai ao centro, dá a volta, vai a cima, vai a baixo, vai ao centro, vai a barriga, vai a cima, vai a baixo, vai a cima, vai a baixo, vai ao centro e esconde atrás das costas……………………………………………..” “Vai a cima, vai a baixo, vai ao centro, vai à esquerda, vai a baixo, vai a cima, vai à direita, vai ao centro, dá a volta, vai a cima, vai a baixo, vai ao centro, vai a barriga, vai a cima, vai a baixo, vai a cima, vai a baixo, vai ao centro e vai para dentro………………….” E finalmente bebemos o champagne, ao fim de meia hora de brincadeira, sem álcool devido aos abanões que sofreu e com pessoas já a torcer as pernas para não se mijarem, incluindo eu (desculpem o termo, mas é para perceberem melhor a situação)… no final a fraternidade de Laleia regressou a casa e nós ficamos a lavar os pratos, que remédio… :D

 

Não me alongo mais neste post. Só vos tenho a dizer que quase todas as semanas conheço gente nova em Timor e sempre com projectos interessantes. Só para terem uma ideia, só hoje comecei a desenvolver dois projectos que se forem para a frente vão ser fantásticos. Um é a criação dum canto de leitura, onde os participantes lerão um texto sobre questões sociais e trocarão ideias com os outros participantes. A ideia é fazê-lo no instituto onde estudo. O outro será uma cooperação entre o meu instituto e a faculdade de filosofia da Universidade Nacional de Timor-leste para criar ou seminários de filosofia ou jornadas de filosofia. A ideia ainda só foi falada por telemóvel, mas para já está a ter boa recepção. Rezem comigo para que dê certo, seria fantástico e muito proveitoso.

 

Paz e bem amiguinhos! Estaremos juntos na oração e no coração! {#emotions_dlg.heart}

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por missao em timor às 15:01

Quinta-feira, 20.03.14

O melhor dia do mês (e não é o de S. Receber)

Olá amiguinhos, nestes últimos dias tenho andado entusiasmado, finalmente tenho alguém no Instituto de filosofia-teologia com quem posso conversar. É uma rapariga que começou a trabalhar a semana passada no Instituto, na organização da nova biblioteca, e que me deixou surpreso quando nos conhecemos, a cena foi assim: Estava na secretaria a falar tétum (ou o que eu penso ser tétum) com as funcionárias da secretaria quando ela me pergunta “És português ou brasileiro?”. Fiquei a olhar para ela sem reacção, primeiro por ela ter percebido que eu era malai (estrangeiro), o que por si só não me deveria surpreender, depois porque o português dela foi falado com um sotaque perfeito, não acreditei que fosse timorense e cheguei mesmo a pensar que ela era cabo-verdiana (Mais tarde confessou-me que em Portugal lhe chamavam de crioula, porque andava sempre acompanhada de cabo-verdianas e tem traços iguais a elas). Uns segundos depois de ficar a olhar para ela com cara de cromo (como se tivesse outra {#emotions_dlg.serious}) respondi-lhe que era português, ela continuou “Eu estive a estudar em Portugal, no Porto”, um pouco mais interessado continuei “A sério? Eu sou do Porto… Onde estudaste?”, “No instituto politécnico”, “Pois, mas qual deles?”, “Ah! Pois… No ISCAP”, “A sério? (estava cada vez mais fascinado)”, continua ela “Eu morava em S. Mamede de Infesta” e ainda sem acreditar na quantidade de coincidências aqui disse-lhe “Eu sou de S. Mamede de Infesta” neste momento até ela se espantou… continuei eu “Estás a organizar a nova biblioteca do Instituto certo?” “Sim” “E tens ideia de como se fazem as cotas dos livros? É que estou a organizar a minha biblioteca em Tibar e não sei como hei-de fazer as cotas…” “Eu tenho um esquema que me deram, se quiseres posso dar-te”. Como já eram 13h e estávamos os dois de saída combinamos encontrarmo-nos no dia seguinte. Agora, sempre que tenho um tempo livre, costumo ir à futura biblioteca falar com ela. Já falamos da nossa experiência académica em Portugal e da cidade do Porto e relembramos coisas engraçadas que cada um viveu em Portugal. Também já trocamos ideias e sugestões sobre como organizar uma biblioteca, o que me está a ser uma grande ajuda {#emotions_dlg.blink} (Para os mais curiosos não irei publicar uma foto dela, até porque não tenho… ahahah {#emotions_dlg.lol})

O mês de Julho não começou muito bem… para o frei Agostinho. Logo no dia 3, enquanto jantávamos um bom peixinho cozido (não cozinhado por mim, por isso é que era bom) uma espinha prendeu-se-lhe na garganta… o rapaz desesperou, ele tossia, bebia água em abundância, tentava vomitar e nada, a espinha não saía… aconselhei-lhe a comer um pão, a ver se empurrava a espinha para baixo, mas nada, ela teimava em não sair… Fomos ao ISMAIK (A Mana Lu também tem uma comunidade em Tibar) ver se tinham algum remédio caseiro para ajudar a espinha a sair. Deram-lhe óleo virgem de coco para ele ir bebendo, a ver se amolecia a espinha e ela saía… coitado aquilo era tão amargo que ele tinha muitas dificuldades em beber, fazia cada cara mais feia que até metia dó… foram 3 dias de grande sofrimento, mal podia falar, mas felizmente no dia 6 ela caiu… a partir desse dia o Agostinho deixou de comer peixe, coitado, ficou traumatizado… agora já ganhou novamente coragem e já come peixe, mas demora meia hora só a certificar-se que não vai nenhuma espinha pelo meio… {#emotions_dlg.ill}

No dia 15 recebemos a visita do frei Filipe, da Joana e do Rafael. Não foi uma visita de cortesia, foi mesmo por necessidade, é que dentro de 3 dias o Rafael regressa a Portugal por não ter conseguido estender o seu visto de turista. Vai aproveitar a onda e vai passar umas férias a Portugal, com a família, e depois regressa para completar um ano de estadia em Timor-Leste como leigo missionário. Apesar do visto ser de turista, ele aqui é tudo menos isso, em Laleia era mão para toda a obra. Se era preciso fazer algum serviço lá estava o Rafael no meio a ajudar. Ultimamente, e graças a uma oferta especial de um grupo de espanhóis, ele passou a ser o fotógrafo oficial da Paróquia de Nossa Senhora do Rosário de Laleia, cargo que lhe invejo, não propriamente por ser fotógrafo, isso também o sou aqui em Tibar, mas porque a máquina que ele usa é muito superior à minha (custa-me admitir isto, mas é verdade). É óbvio que não resisti e já tirei umas fotos com aquela máquina (já não me lembro a marca nem as características principais)… Ela é fantástica, faz tudo sozinha, nós só temos que fazer zoom e pressionar o botão de disparar… fantástico, as fotos saem perfeitas, principalmente quando tiradas por mim… {#emotions_dlg.blink}

No dia 20 de Julho nós (os pós-noviços) e o frei Fernando fizemos aquilo que chamamos de “Pastoral da montanha”. Todos os meses, uma vez por mês, ao sábado, vamos visitar uma comunidade cristã situada no meio da montanha, em Nasuta. A aldeia chama-se Hatubesilolo e conta com no máximo 30 pessoas, contando mulheres e crianças… ;) Como é difícil (mas não impossível) chegar lá de carro usamos o “4rodas” para nos transportar até Nasuta e de Nasuta até Hatubesilolo usamos o “duas pernas”, ou seja, vamos a pé… São cerca de 1:30h/2h até lá, sempre a caminhar, sem parar para descansar, por entre a pura natureza e a beleza natural criada por Deus, sem intervenção de mão humana, excepto nalgumas árvores que já foram cortadas… as paisagens são lindas, vistas sobre o mar, sobre o verde das montanhas, as nuvens brancas no céu guiando-nos o caminho e o sol, todo ele, emanando calor (às vezes até de mais) e dando-nos o bom dia, um caminhada agradável que tenho pena de se fazer só uma vez por mês… A partida de casa é às 8h, com chegada prevista a Nasuta por volta das 8:30h e a Hatubesilolo entre as 10h e as 10:30h. O objectivo destas visitas não é só para celebrar a eucaristia, eles têm-na quase todos os domingos, mas para lhes dar formação cristã consoante o tempo litúrgico que vivemos e o programa preparado pela paróquia de Liquiçá da qual Tíbar faz parte. Para os próximos 5 meses está programado um Pós-Noviço apresentar uma parte do Catecismo da Igreja Católica. Este mês foi a vez do frei Manuel com o tema “a fé professada”, falando sobre o credo. No próximo mês serei eu e falarei sobre os sacramentos. No final da missa a comunidade dá-nos um almoço que, apesar de não ser pouco, só dá para aguentarmos a viagem, ou seja, chegamos a casa por volta das 15h e, para além de nos apetecer tomar um banho e descansar, o que nos apetece mesmo primeiro fazer é voltar a almoçar, ou seja, a re-almoçar… (eheh acabei de inventar uma palavra nova, vou patenteá-la e cobrar direitos de autor a quem a usar) {#emotions_dlg.happy}

Estas são as paisagens que eu vejo quando faço a "Pastoral da montanha"

 

 

Durante a tarde os freis John e Rafa chegaram das suas férias com a família no Oe-cussi, a fim de poderem participar no curso de catequistas, a nível diocesano, que o frei Fernando organizou. E por ter sido o frei Fernando a organizar, o espaço tem de ser limpo por nós, pois está claro… E lá fui eu, o único voluntário ainda com forças nas pernas, ajudar à limpeza. E não podia ter sido escolhida a pior pessoa para fazer limpezas… As noviças das irmãs Concepcionistas já se encontravam por lá, mas faltava o homem da força (posso ser magro, mas tenho muita) para arrastar os objectos pesados… Como se fazer limpezas em grupo não fosse já por si divertido (especialmente comigo pelo meio) ainda havia uma festa de um grupo coral mesmo ao lado das salas que estávamos a limpar. Quando começamos as limpezas, as noviças deram-me uma vassoura para a mão, mas o que eu queria mesmo não era limpar, mas sim dançar. E já que as noviças, por vergonha (digo eu), não queriam dançar comigo, dancei eu com a vassoura… mais tarde acharam que varrer não é trabalho digno de um homem e deram-me uma mangueira para a mão… não podiam ter feito pior asneira, saíram de lá todas molhadas… melhor, saímos todos molhados, porque eu também aproveitei para me refrescar… mas ao menos ficou tudo limpo… {#emotions_dlg.style} Resumindo, foi uma tarde bem divertida que se repetiu no dia seguinte, mas sem mangueiras nem água, só com alfinetes… foi pôr toda a gente a dizer “Ai” (estou a brincar)… {#emotions_dlg.lol} 

Para o próximo episódio temos o aniversário do frei Fernando, Jornada Mundial da Juventude Rio de Laleia e muito mais… Não perca o próximo episódio, porque eu também não… pudera, sou eu o guionista e o actor principal… {#emotions_dlg.tongue}

 

PS: Alguém tem livros de filosofia que queira enviar para Timor? Manuais escolares não vale a pena, o que realmente precisamos é de livros de autores filosóficos, tipo Descartes ou Kant (entre outros), livros de ramos de filosofia, tipo Cosmologia, Antropologia, etc… e também livros de História da filosofia… Ando a percorrer as melhores bibliotecas de Dili e nenhuma tem o que procuro… Podem enviar por correio para “Ricardo Tinoco, CP. 139, Tíbar”. Até 2kg, em económico, só custam 3€, têm é de pedir para ser económico, senão despacham por avião, fica mais caro e demora o mesmo tempo… Obrigado!

 

Para terminar deixo duas das minhas melhores fotos que tirei em Timor...

 

A caminho de Liquiçá...

Um pescador em Laleia...

Paz e bem amiguinhos! Estaremos juntos na oração e no coração! {#emotions_dlg.heart}

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por missao em timor às 12:40

Sexta-feira, 07.02.14

Aqui trabalha-se quer faça chuva, quer faça sol...

Olá amiguinhos! Feliz ano novo! Nunca é tarde para se desejar e ainda só passaram cerca de 38dias que ele começou, ainda faltam cerca de 327 para terminar… {#emotions_dlg.bunny}

Depois de uma semana a beber do carisma e da fé da Mana Lu deu-se início ao segundo semestre de aulas. Se em Portugal, pelo menos na Universidade, os professores seguem a máxima do “prima non datur”, ou seja, na primeira aula não se dá matéria, aqui os professores decidiram ser um pouco mais radicais em relação a esta máxima, eles não se limitam a não dar matéria na primeira aula, eles não dão mesmo aulas… uma semana depois e ainda não conhecia nenhum dos meus novos professores… parece que é moda por cá, parece que nas outras Universidades também fazem o mesmo… Mas o que interessa é que ao fim de duas semanas a coisa normalizou-se.

Depois de termos celebrado a festa mais importante do mês de Junho, o meu aniversário (ahahah :P) começamos a preparar outra grande festa que os lisboetas muito gostam, o S. João do Porto… ahahah brincadeira outra vez, estou a falar, pois está claro, da festa de Sto. António de Lisboa. Não sendo o patrono principal da estação missionária de Tíbar, tem, pelo menos, uma Igreja dedicada a ele. Para ajudarmos a comunidade dessa capela a se preparar melhor para esta festa, no dia 12 decidimos passar um filme sobre a vida de Sto. António dobrado em brasileiro. Eu ficaria responsável pela parte informática e de som e os outros frades pela logística. As dificuldades começaram a surgir quando se começou a pensar em como iriamos apresentar o filme. 1º - Não havia uma sala própria para o fazer e 2º - Aquela aldeia ainda não tem electricidade própria, funcionam com um gerador que o ligam ao final da tarde e o desligam por volta das 23h. Se o primeiro problema se resolveu facilmente com uma sessão de cinema ao ar livre, o segundo problema deu mais que pensar, e se o gerador não aguenta com tanta tecnologia? Se ele mal aguenta com uma lâmpada acesa em cada casa, como vai aguentar com um portátil e um data show? Como a população dizia que era possível e que até, inclusive, ligavam todas as noites uma televisão para verem as notícias, nós confiamos e lá fomos nós… É claro que tínhamos um plano de contingência, se não aguentasse com a nossa tecnologia, ligávamos a televisão e passávamos lá o filme…

Estávamos todos prontos, prendemos um lençol branco à parede de uma casa para fazer de tela, as pessoas estavam sentadas no chão coberto de relva e o gerador e os aparelhos electrónicos estavam ligados e a funcionar correctamente, só faltou o sol apagar a luz para que a projecção ficasse nítida… 2horas depois de esperarmos pelo anoitecer o filme começou. O filme era em português/brasileiro, todos estavam em silêncio, homens, mulheres e crianças, todos estavam a gostar e se divertiam com o filme, mas ninguém percebia nada do que diziam… ou, pelo menos, a maioria das palavras… Estava tudo a correr de forma perfeita quando começaram a surgir os problemas… primeiro foi a humidade, fiquei assustado quando começo a ver o meu portátil, o amplificador e o data show completamente molhados devido à humidade e sem maneira de os poder proteger, depois foi o gerador que começou a dar uma de preguiçoso. De repente foi tudo a baixo, o gerador desligou-se… o responsável pelo gerador foi logo ver se era problema de gasolina, mas não, ainda tinha bastante… ligaram outra vez o gerador e o filme recomeçou… e 5min depois, puuummm, tudo abaixo outra vez, comecei a ficar preocupado, o data show não pode ser desligado assim tão bruscamente, e comecei a ficar preocupado… voltou-se a ligar tudo e, passados 5min, a mesma situação… Aí já intervim e disse que se o gerador voltasse a desligar-se que teria de cancelar o filme, pois não poderia arriscar a estragar um material tão caro… aí já interveio a população, não queriam ficar com o filme a meio, tinham de o ver até ao fim e assim decidiram ir desligar todas as lâmpadas, rádios e tv’s ligados em suas casas para que o gerador só funcionasse para o projector e o portátil… depois de resolvido esse percalço vimos o filme até ao fim e sem mais nenhuma interrupção. No final, e é o que interessa, as pessoas ficaram alegres e satisfeitas por conhecerem um pouco mais da história do padroeiro da sua capela, mesmo não tendo percebido o que se disse no filme… {#emotions_dlg.smile}

A preparar a tela

 

À espera que o sol se pusesse para começar o filme.

 

No dia 14 de junho deu-se inicio a mais uma etapa de formação à comunidade de Tíbar. Durante um mês todas as capelas iriam ter alguém que lhes orientasse uma Letio Divina (leitura e meditação da bíblia). A mim calhou-me a capela de Lebuloa. Estava assustado, eu ainda mal falava o tétum, só sabia dizer meia dúzia de frases, como iria orientar uma Letio Divina para um público que sabe tanto de português como eu de tétum (ou se calhar até menos)? Deixei que o Espírito Santo fizesse a sua parte e não é que fez mesmo?! Devagarinho, com alguma dificuldade, com pessoas a olhar com cara de caso para mim e outras a conterem-se para não se rir, lá consegui comunicar com eles e orientar, de forma impecável, a Letio Divina, onde todos participaram intervieram… A cada encontro (cerca de 4) o grupo aumentou. Inicialmente comecei com cerca de 12 elementos e, na última sessão, já contava com cerca de 20 participantes. Foi uma experiência muito boa que tive pena de ter durado apenas um mês… {#emotions_dlg.ok}

Aqui em Timor trabalha-se sempre, faça chuva ou faça sol… e se normalmente se desespera quando estamos no campo a trabalhar, porque o calor é muito no dia 22 de junho foi mais o contrário, a gente desesperou, porque estava a chover torrencialmente e o frei Fernando não queria que deixássemos o trabalho a meio, começando ele por dar o exemplo trabalhando duro como se o tempo estivesse limpo… a chuva era tanta que mal conseguia ter os olhos abertos para poder trabalhar… curioso é que passados cerca de 30min de termos terminado o serviço a chuva parou… Deve ter sido para receber o frei John e o frei Rafael que regressaram de Portugal para um tempo de férias e também para renovarem os seus votos religiosos por mais 1 ano. Como eu também precisava de renovar os meus juntei-me à festa (depois conto-vos os pormenores)… :D

Bom, amiguinhos, o mês de junho foi talvez o mês mais espiritual que tive cá em Timor. Tive o prazer de conhecer a Mana Lu e beber da sua espiritualidade e passei a conhecer o significado (à letra) da expressão “vou fazer isto quer faça chuva quer faça sol”… apesar de preferir um tempo mais moderado… {#emotions_dlg.snob}

Paz e bem amiguinhos! Estaremos juntos na oração e no coração!{#emotions_dlg.heart}

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por missao em timor às 02:54

Segunda-feira, 02.12.13

Um retiro que muda uma vida

Olá amiguinhos! Peço desculpa por não conseguir publicar semanalmente, mas irei tentar fazê-lo mensalmente, no mínimo. {#emotions_dlg.smile}

Continuando a minha aventura (agora com uma racha na cabeça), no dia seguinte ao meu aniversário, no dia 3 de Junho, partimos logo cedo para Dare, para a casa de retiro do ISMAIK (Instituto Sekular Maun Alin Iha Kristu = Instituo secular dos irmãozinhos de Cristo). Desta vez o retiro era para todos os frades capuchinhos em Timor-Leste, mas devido a um contratempo a fraternidade de Laleia não pode comparecer, ficando apenas a minha. Confesso que não estava com vontade nenhuma de ter um retiro, tinha acabado de vir de um, e queria aproveitar o tempo para colocar tanto o blog como a crónica da fraternidade em dia, mas tive de ir e ainda bem que fui, valeu mesmo muito a pena.

O retiro ia ser pregado pela irmã fundadora do ISMAIK, a Mana Lu (Irmã Lurdes) e não havia um tema específico, queríamos apenas que ela nos contasse a sua experiência de vida como fundadora de um instituto que já conta com 25anos de existência e é conhecido um pouco por toda a Ásia e vai começando a ser conhecido na Europa também. Ela domina três línguas, o tétum, o indonésio e o português (o que foi a minha sorte). Em português só fez uma conferência, a primeira, as outras foi em tétum, para que a maioria pudesse entender melhor. Até ia percebendo algumas coisas do que ela dizia nas conferências, mas a grande magia do retiro não aconteceu nesses encontros, aconteceu fora dos encontros, nas horas dedicadas à meditação. Tudo começou quando, estando eu sozinho no refeitório a comer qualquer coisa, apareceu a Mana Lu. Começou a falar comigo e a perguntar se percebia o que ela dizia durante as conferências. Disse-lhe que não percebia muito, só algumas coisas, e começamos a conversar. E foi a partir desse momento que comecei a ter as minhas conferências privadas. Confesso-vos que foram as melhores horas do retiro. Todos os dias, depois da conferência com todo o grupo, encontrávamo-nos só os dois no refeitório para trocar ideias e experiências de vida. Senti-me insignificante perante a experiência de vida dela, como se tudo o que tivesse feito fosse uma migalha no meio dum pão que era a vida dela, percebi que até agora só tinha aprendido a dizer a letra A e que ela já escrevia livros… Tal como disse S. Francisco perto da sua morte “Irmãos comecemos que até agora pouco ou nada fizemos…” e foi este NADA que eu senti, este vazio de acções, de cumprimento da vontade de Deus, que senti quando comecei a ouvir as maravilhosas histórias de vida da Mana Lu. Ela começou tudo quando tinha 14 anos, enfrentou chuva, frio e vento, passou fome, dormiu em casas em ruínas, lutou contra todos os que a queriam deitar abaixo (e continua a lutar), venceu umas batalhas, perdeu outras, mas nunca desanimou e acreditou sempre na Providência Divina que nunca a abandonou.

Vou partilhar um pedaço da vida dela com vocês, aquela história que mais me marcou. Já depois de ter fundado o ISMAIK (não foi a primeira coisa que fez quando sentiu o chamamento de Deus), ela enviou os seus candidatos (rapazes e raparigas que querem seguir o exemplo de vida da Mana Lu) a visitar as aldeias vizinhas para que eles tivessem conhecimento das dificuldades que eles estão a passar e como os poderiam ajudar. Quando chegaram a casa reportaram que havia famílias que nem tinha dinheiro para comprar arroz, que é talvez do alimento mais barato aqui em Timor e aquilo com que normalmente as famílias se alimentam. A Mana Lu não pensou duas vezes, foi à dispensa, pegou em todo o arroz que tinha e mandou distribuí-lo pelas famílias necessitadas. Os candidatos ficaram preocupados, porque depois seriam eles que ficariam sem comer. Ela mandou-os levar o arroz e disse-lhes para acreditarem na Providência Divina, que nunca deixa os seus filhos passar fome. E assim sucedeu, a meio da tarde, enquanto alguns candidatos foram levar o arroz às famílias carenciadas um carro vermelho parou em frente do portão de baixo da casa, buzinou para que se apercebessem que alguém tinha chegado, descarregou vários sacos de arroz e outros alimentos, entrou no carro e foi-se embora sem se identificar… A Mana Lu e alguns candidatos que ficaram em casa ficaram entusiasmados com a oferta e louvaram a Deus pela sua generosidade. Depois de recolhidos os sacos eles não foram imediatamente guardados na dispensa, levaram-na para a capela da casa e esperaram a chegada dos outros candidatos. Quando eles chegaram a casa, a Mana Lu convidou toda a gente a ir à capela rezar. Os candidatos ao verem aquela quantidade de arroz e comida choraram de alegria, louvaram a Deus pelas suas maravilhas e deram graças pela Sua generosidade.

Muitas histórias ela me contou e em todas elas teve sempre algo em comum, nunca deixar de acreditar em Deus, Ele é que nos guia na nossa vida, Ele é que sabe o que é melhor para nós e só n’Ele é que está a felicidade eterna.

Saí do retiro revigorado, com um espírito renovado. Sempre que lia as fontes franciscanas, principalmente as biografias de S. Francisco, ficava a pensar como terá sido viver com S. Francisco e Sta. Clara, como terá sido conviver com eles, beber directamente do seu espírito, sentir a sua fé em Deus, ser pessoalmente iluminados pela sua luz. Pois vos digo que já não penso mais nisso, depois de conhecer a Mana Lu obtive todas estas respostas que não se explicam por palavras, mas só se conseguem sentir, tanto na alma como no coração.

Estes somos nós com a Mana Lu, uma mulher espantosa {#emotions_dlg.happy}

 

Paz e bem amiguinhos! Estaremos juntos na oração e no coração.{#emotions_dlg.heart}

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por missao em timor às 01:05

Domingo, 20.10.13

E já lá vão 28...

A minha mãe ligou-me para o telemóvel e disse-me: “Filhinho querido muito amado da mamã (os meus irmãos podem desmentir, por ciúmes, mas ela disse-me mesmo isto) não dá para falarmos pela internet?” “Dá, podemos usar o skype e, como ambos temos webcams, até nos conseguimos ver um ao outro, mas vocês têm de se pôr on-line, senão não consigo fazer a chamada”. E a minha família pôs-se toda em fila indiana… (on-line = em linha). {#emotions_dlg.lol}

Passemos a coisas mais sérias. Continuando a minha aventura, depois do aniversário do frei Isidóros não houve mais nenhuma actividade extraordinário, apesar do mês de Maio ter sido um mês bem preenchido. As actividades foram muito idênticas com procissões em honra de Nossa Senhora todas as segundas, quartas e sextas fazendo a imagem circular todos os bairros. Celebrava-se a missa no bairro onde se encontrava a imagem de Nossa Senhora e seguia-se a procissão para o bairro seguinte onde a população local, depois de receber Nossa Senhora com toda a pompa e circunstância, nos oferecia um lanche/convívio. Destaco apenas o dia 13 de Maio, que sendo o dia comemorativo da 1ª aparição de Nossa Senhora em Fátima, contou com a representação da Irmã Lúcia, Jacinta e Francisco por três criancinhas vestidas a rigor.

Chegamos assim ao mês de Junho, um mês especial para mim. Este mês começou logo com um retiro, o que me começou a atrapalhar um pouco. Fazia anos dia 2 (28 aninhos) e não iria poder estar em casa para poder falar com a minha família pelo Skype (eles já sabem o que é estar on-line), a única solução seria o telemóvel. Chegados ao local do retiro, em Maubara, na casa das Irmãs Carmelitas, comecei a ver cada vez mais patente o pesadelo de um aniversário sem comunicação com a família, NÃO HAVIA REDE no telemóvel naquele local{#emotions_dlg.tlm}. Sem telemóvel e sem internet a comunicação seria impossível, a única solução seria esperar que o retiro acabasse e ligar eu para a minha mãe, coisa que não queria, porque as chamadas são caras… Desligado de todas as comunicações aproveitei o retiro não só para aprender mais sobre o Catecismo da Igreja Católica, mas também para perceber como o poderia aplicar melhor na minha vida. Nos intervalos do retiro não se falava de outra coisa senão no meu aniversário e como o iriamos comemorar assim que chegássemos a casa. Para surpresa minha, no dia 2 de manhã (Domingo), as irmãs prepararam-me um bolo muito gostoso para me cantarem os parabéns. Mas o melhor ainda estaria para vir, assim que terminamos o retiro fomos logo embora, sem perder tempo (e eu já aliviado, porque sabia que assim que chegasse à estrada principal iria ter rede no tlm) mas, 5min depois de chegarmos à estrada, o frei Isidóros parou o carro e desligou-o. Pensei que se tivesse esquecido de alguma coisa. Perguntei-lhe o que se passava e ele respondeu-me “Não é hoje o teu aniversário?” “Sim”, respondo eu, “Não é teu desejo dares um mergulho nos mares timorenses?” “sim” e tirando as calças disse “então vamos todos à praia dar um mergulho…” Não hesitei, mesmo sem calções de banho (fui com os de ganga que estava a usar no momento) fui a correr para a praia dar um mergulho, mas comecei a arrepender-me assim que comecei a entrar na água. Não que ela estivesse fria, pelo contrário, nunca tinha entrado em água tão quente, mas é que no fundo do mar não havia areia, como em Portugal, só rochas e precisei andar muito para que a água me chegasse à cintura para poder mergulhar em segurança (culpa também dos meus 3metros de altura, claro)… Foi a melhor prenda de anos que me podiam ter dado. Dou mais valor aos gestos que às prendas em si (apesar de também valorizar as prendas, claro) e este gesto foi muito significativo para mim, porque neste dia, apesar de estarmos todos cheios de vontade de regressar a casa, o frei Isidóros fez questão de realizar o meu desejo pessoal… {#emotions_dlg.happy} Desde este dia que, sempre que saímos em fraternidade, é para uma praia que vamos.

Tive que desligar e voltar a ligar o telemóvel para voltar a ter rede (estúpido telemóvel) e foi quando recebi a minha primeira (e única) mensagem de parabéns. Era a Sister Rose a desejar-me felicidades e a dizer que, apesar de eu não ter estado presente na missa, o frei Fernando fez questão de mencionar que hoje era o meu aniversário e toda a comunidade rezou por mim (graças a isso andei duas semanas a receber os parabéns {#emotions_dlg.smile}). Aos meus amigos no fb, apesar de ter prometido que ia responder a todos, ao fim de 2meses a tentar desisti (eram mais de 300 mensagens)… a net é muito lenta e muito cara também… vocês compreendem. Entretanto consegui falar com a minha família, não me lembro é dos pormenores da chamada, mas lembro-me que me cantaram os parabéns. Mas de uma coisa me lembro, o meu irmão não me ligou, mas não fiquei triste, porque sei que não fez de propósito, ele é distraído por natureza {#emotions_dlg.blink}

À noite, durante o jantar, a fraternidade celebrou o meu aniversário com direito a convidado(a) especial, a irmã São, das irmãs concepcionistas ao serviço dos pobres que apareceu por lá de tarde para combinar a ida a Liquiçá para uma vigília de oração e adoração ao Santíssimo Sacramento e ficou para jantar. A festa decorreu segundo o protocolo timorense, com direito a discurso e brinde. É muito bom e especial poder celebrar o nosso aniversário em família. Obrigado a todos os que se lembraram de mim, mesmo que não me tenham dado os parabéns, como o meu irmão {#emotions_dlg.happy}

Estou de férias da faculdade, o que significa que terei um pouco mais de tempo para escrever o blog e colocar as histórias em dia. Espero que consiga {#emotions_dlg.smile}

Paz e bem amiguinhos! Estaremos juntos na oração e no coração. {#emotions_dlg.heart}

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por missao em timor às 08:18

Domingo, 29.09.13

Quem sou eu?

Olá amiguinhos! Hoje o blog comemora o seu primeiro aniversário e como tal decidi fazer uma pausa na narração da minha aventura para me apresentar. Apesar de não ter uma noção certa de quantas pessoas leem o blog e quem são essas pessoas, pelo menos tenho a certeza que nem todos me conhecem, por isso, nesta publicação decidi fazer uma pequena autobiografia e revelar segredos que nem a minha mãe sabia a meu respeito, a começar pelo meu local de nascimento {#emotions_dlg.blink}

Eu nasci em Marrocos, na cidade capital, Rabbat. Para vos ajudar a situar, podemos dizer que Rabbat está para Marrocos como o Porto está para Portugal, ou seja, é a cidade mais importante desse país. {#emotions_dlg.lol} Quando era pequeno vim para Portugal para tentar expandir o meu negócio de venda de camelos no novo deserto que o Sócrates descobriu, a Margem Sul, mas não resultou. A concorrência era muita, já havia uma instância de venda e aluguer de camelos lá para os lados do Largo do Rato, chamada Assembleia da República, melhores camelos que aqueles eu não conseguiria arranjar... (sem querer ofender ninguém , claro)...

 Venho de uma família pobre, tão pobre que a minha mãe me deu à luz no chão do hospital só para não ter de pagar a cama, as enfermeiras eram reformadas a fazer voluntariado e o material do parto era emprestado da mulher da cama ao lado. Eu era tão pobre que na escola a professora não me mandava trabalhos para casa, mandava trabalhos para debaixo da ponte ou para a beira do passeio… Tive uma infância difícil, uma vez comi cotão a pensar que era algodão doce de chocolate. O meu físico nunca me ajudou grande coisa, sou tão magro que no estudo do corpo humano, em ciências, a professora, não tendo uma maqueta do corpo humano, analisava todos os ossos através de mim. O meu bairro era tão pobre que nem tinha campo de futebol, jogávamos numa avenida e o resultado era sempre o mesmo, 3 atropelamentos e uma estadia grátis no hotel Hospital S. João. Como não tínhamos balizas, os meus colegas aproveitavam o facto de eu ser alto e magro para fazer de poste. Houve uma altura em que já não sabia se era preto ou se estava era todo pisado… No final descobri que era as duas coisas… Gostava tanto das aulas que chegava sempre atrasado, a única vez que cheguei primeiro que o professor, ele pôs-se de joelhos a gritar “aleluia, finalmente as minhas preces foram ouvidas, milagres existem”, abriu uma garrafa de champagne, lançou confettis e depois foi a Fátima a pé... A minha escola era tão pobre que, no final dos exames, em vez de dar notas aos alunos dava moedas e algumas vezes até ficava a dever. Na altura em que era estudante houve grande discussão por causa do racismo, então para a minha escola não ser acusada de ser racista, em vez de o professor escrever os exercícios no quadro preto, escrevia num quadro da Benetton... Como os meus estudos numa escola diurna falharam, o meu psicólogo aconselhou-me a estudar de noite e assim o fiz, comecei a estudar as galerias do Porto, as noites da Ribeira, a noite lisboeta… Neste momento estou a explorar outras opções de estudo nocturno, tais como o October fest, a noite em Amesterdão entre outras…

Como podem ver, a minha infância não foi das melhores, mas valeu a pena. Hoje em dia, quando estou no meu bairro, os rapazes já não me pedem para ser poste de baliza, mas para fazer de cesto de basquete, é o que dá medir quase 3 metros…

Como vocês sabem agora estou em Timor e já me chamam de Indiana Kill Bill Jones, uma mistura de Indiana Jones com Kill Bill. Indiana Jones, porque ando sempre armado com duas catanas e kill Bill, porque ontem, enquanto tratava das minhas bananeiras apareceu-me uma cobra que me disse: “I’m Bill” eu respondi: “I’m Kill Bill” pego na catana e zás, cabeça para um lado e corpo para o outro… Peço desculpa aos mais sensíveis, mas teve de ser, ou ela ou eu, e elas são muito venenosas mesmo…

Eu, no meu dia-a-dia em Timor-Leste...

a cobra Bill que eu Kill Bill...

Espero que tenham gostado de me conhecer um pouco melhor {#emotions_dlg.happy}

Paz e bem amiguinhos! Estaremos juntos na oração e no coração {#emotions_dlg.heart}

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por missao em timor às 04:11

Quinta-feira, 12.09.13

Frei Isidóros Cup

Olá amiguinhos! O meu professor de introdução à economia (apesar de estar a fazer o curso de filosofia-teologia, também tenho duas cadeiras de economia) dividiu a turma em 6 grupos e pediu-nos para fazermos um trabalho temático para depois o apresentarmos à turma. E esta semana começaram as apresentações. Nunca vi uma apresentação tão formal. Primeiro colocaram cadeiras para todos, atrás da secretária do professor, de seguida começaram a apresentação. Havia um moderador que indicou a ordem de apresentação do tema e qual o respectivo orador para esse tema, seguiu-se a temática do trabalho e, por fim, em que língua (neste caso línguas, decidiram apresentar em Tétum e Inglês) iria ser apresentado o trabalho. E como se isto já não fosse suficiente para achar a cena caricata (estamos a falar de uma simples apresentação à turma e não da defesa de uma tese) cada orador começava a apresentação com “Obrigado frater Domingos (o moderador) e à turma pelo tempo que me concedem para apresentar o meu tema…”. Fiquei tão surpreendido com tanta formalidade que estou assustado quando for a minha vez de apresentar… Acho que vou quebrar todos os protocolos timorenses… {#emotions_dlg.bunny}

Continuando a minha aventura, como no dia 9 de Maio o frei Isidóros faz anos e, como quando um frade faz anos costumam-se juntar as duas fraternidades de Timor, era preciso alguém ir a Laleia, no dia 8, buscar os postulantes (o frei Maximiliano viria só no dia seguinte depois da missa e o frei Filipe está em Portugal), essa tarefa coube-me a mim. Logo a seguir ao almoço peguei no carro e lá fui eu todo contente, sozinho mas não solitário (tinha os web10 da Mega Hits, que tirei da net quando ainda estava a morar em Laleia, para me acompanhar). O caminho não é difícil, só tenho que virar duas vezes, uma perto da residência do Presidente da República e outra em Hera. Se a última é fácil de saber quando tenho de virar, porque não há mais caminho em frente, a segunda requer um pouco mais de atenção. A única referência é um pilar no meio da estrada, já em cima da curva. E lá fui eu todo contente, a ouvir boa música e sempre atento à procura do tal pilar quando começo a achar que já tinha andado mais do que devia, mas como ainda não tinha visto o tal pilar e também não podia fazer inversão de marcha, porque a estrada é apertada (mal cabem dois carros) e com pouca visibilidade, só me restava continuar. O meu instinto estava certo, 10min depois chego a Cristo Rei e ao consequente final da estrada. Dei a volta (aqui já é possível) e lá voltei para trás com a atenção redobrada, porque a hora já estava a apertar. Encontrei o tal desvio e continuei a viagem mais tranquilo. A viagem durou-me cerca de 3horas. Não fui muito acelerado para poder evitar os buracos que afinal já tinham sido todos tapados. Cheguei a Laleia por volta das 17h. Relaxei por lá um pouco, tomei um café e umas bolachas e voltei à estrada acompanhado pelos postulantes. Eles eram cerca de 7. 3 Foram dentro do carro comigo e 4 foram atrás. Coitados dos que foram atrás, depois de saber que a estrada não tinha mais buracos aproveitei para acelerar, também porque queria chegar a casa à hora do jantar. Curva para a esquerda, curva para a direita, o carro sempre entre os 80Km/h e os 100km/h (à excepção de quando a curva era mais apertada, aí reduzia bastante) até que um dos rapazes pede para parar o carro, porque se estava a sentir mal. Parei o carro, esperamos um pouco para que o estômago dele se acalmasse e voltamos à carga. A partir daqui foi sempre directo até Tibar, sem parar. Eram cerca das 19:45h quando chegamos a casa, mesmo a tempo do jantar, e qual não foi o meu espanto quando olho para o carro e vejo a traseira toda suja de vomitado. Perguntei-lhes porque não me avisaram que estavam mal dispostos para eu parar o carro, eles disseram que tinham avisado, mas que provavelmente eu não teria ouvido… E realmente foi o que aconteceu. Como tinha o rádio ligado (tava sem bateria no tlm para ouvir o web10) não consegui ouvir os avisos dos rapazes… coitados, tive mesmo pena deles… {#emotions_dlg.sidemouth}

No dia seguinte, dia 9, foi o aniversário do frei Isidóros. Ele presidiu à celebração da Eucaristia, dando graças a Deus pelo dom da vida e por tudo o que Deus lhe tem oferecido. Durante a manhã os postulantes ficaram a preparar o grande almoço de festa enquanto nós, os pós-noviços, fomos para as aulas. Não faltou nada, a mesa estava recheada de coisas boas, muito arroz, Super Mi (uma massa esparguete feita em 2min muito boa,) vinho tinto, Martini e vinho do Porto (a minha perdição). No final da refeição cantamos os parabéns seguido do grande brinde, do partir do bolo e dos indispensáveis discursos. 

Como é óbvio, a festa não ficou por aqui, com tantos jovens numa casa, um campo de futebol só para nós e uma tarde livre só poderia resultar num jogo de futebol. Era a FREI ISIDÓROS CUP e seria disputado pelas duas melhores equipas de Timor-Leste, O Futebol Clube do Porto de Tíbar e o Sport Lisboa e Benfica de Laleia.

As equipas sobem ao relvado, tira-se a foto de apresentação e os jogadores cumprimentam-se em sinal de fair play (que realmente existiu, não houve registo de uma única falta, eu encarreguei-me de colocar uma venda nos olhos do árbitro).

As esquipas já estão constituídas, por parte do Futebol Clube do Porto de Tíbar: Na baliza Helton Tinoco (o único com a camisola do FCP), na defesa Fernando Alberto Otamentdi (2º em cima a contar da esquerda) e Manuel Maicon (3º em cima a contar da esquerda), no meio campo Fernando Nicolau (1º em cima a contar da esquerda) e João Agostinho Moutinho (4º em cima a contar da esquerda) e no ataque James Jesuíno Rodriguez (6º em cima a contar da esquerda) e Jackson Isidóros Martinez (Chegou atrasado ao jogo, porque estava a tratar do processo de renovação do contracto); Por parte do Sport Lisboa e Benfica de Laleia: Guarda-redes: Jeremias Artur (2º em baixo a contar da esquerda), na defesa: Jerónimo Luisão (4º em baixo a contar da esquerda) e Moisés Sidney (6º em baixo a contar da esquerda), No meio campo: Rido Gaitán (5º em baixo a contar da esquerda), no ataque: Sebastião Messi (1º em baixo a contar da esquerda) e Hélio Lima (3º em baixo a contar da esquerda).

Aqui vai o resumo do jogo:

0’ – Tem inicio o grande Derby Porto Vs Benfica. É o Benfica que dá o pontapé de saída.

3’ – Sebastião Messi arranca pelo lado direito, olha para a área, prepara-se para tirar o cruzamento e GOOOOOLLLLOOOOOO!!!!! Jogada inteligente de Sebastião Messi ao aproveitar o adiantamento de Helton Tinoco que se preparava para se antecipar e rematou colocado ao primeiro poste, não deixando qualquer hipótese ao guarda-redes portista. 0-1 para o Benfica e o jogo ainda mal começou.

5’ – Novo ataque na direita por parte de Sebastião Messi. Lance idêntico ao do primeiro golo, mas desta vez Helton Tinoco atento e a deitar a bola para canto.

12’ – Ataque do Porto pelo meio. João Agostinho Moutinho abre o jogo com um passe a rasgar para as costas da defesa, James Jesuíno Rodriguez ganha a bola, mas a não aproveitar o lance e a rematar para fora.

20’ – Ataque do Benfica. Sebastião Messi, desta vez pela esquerda, tira Manuel Maicon do caminho, isola-se, corre na direcção da baliza e… grande intervenção de Helton Tinoco a sair-se muito bem aos pés de Sebastião Messi e a roubar-lhe a bola.

22’ – É o Porto no ataque. Fernando Niculau abre na esquerda para João Agostinho Moutinho, ele corre com a bola, segue sem oposição, entra na área, tira um cruzamento rasteiro e GOOOOOLLLLLOOOOOOOO. James Jesuíno Rodriguez a aproveitar da melhor maneira o cruzamento e a restabelecer a igualdade. 1-1 no marcador.

35’ – Substituição. É Jackson Isidóros Martinez que entra em campo, para substituir… ninguém… Parece que ninguém quer sair. E fica o Porto a jogar com mais um… pronto… :P

40’ – Ataque do Porto. É Jackson Isidóros Martinez com a Bola. Ele finta Rido Gaitán, continua a progredir no meio campo, aproxima-se da área, tira Jerónimo Luisão do caminho com grande pormenor técnico, remata forte e colocado e GOOOOOOLLLLLLOOOOOO. É a reviravolta no marcador. 2-1 para o Porto… É o Rapa na rapaqueca…

45’ – Apita o árbitro para o intervalo (que aqui foi mesmo o Fernando Alberto Otamendi, ele é que andou a marcar o tempo com o seu relógio) :P

45’ – Inicia-se o segundo tempo. As equipas mantêm-se inalteradas. Sem mais demoras o Porto passa para o ataque. Fernando Nicolau entrega a bola na direita para James Jesuíno Rodriguez que imediatamente tira o cruzamento, Jackson Isidóros Martinez, na área, recebe a bola de peito, dá meia volta e… à barra… Que grande remate de Jackson Isidóros Martinez no poste superior da baliza encarnada… O lance não para, a bola sobra para João Agostinho Moutinho… remata de primeira com um pontapé artístico e GOOOOOLLLLLOOOOOOO. Bola colocada no ângulo da baliza de Jeremias Artur. 3-1 para o Porto… a vitória já não lhe deve escapar…

50’ – Jogada de insistência de Sebastião Messi, ele segue com a bola pelo meio, tira Fernando Alberto Otamentdi do caminho, entrega na esquerda para Hélio Lima, ele isola-se, entra na área, remata forte colocado e… Grande defesa de Helton Tinoco… é a defesa da noite… Nem o Super-homem conseguia voar tanto como ele voou… Os adeptos benfiquistas nem acreditam, na bancada já se gritava golo… ah espera, estou a ver o jogo errado… aqui não há bancadas nem adeptos… :P

75’ – (Tive que encurtar o resumo do jogo, porque o caché que me deram foi muito reduzido) O Porto já vence por 8-2. Vem novo ataque benfiquista. Depois de dilatada a vantagem e de perceberem que Helton Tinoco consegue travar tudo o que lhe aparece na frente os jogadores do Porto já nem se preocupam em defender… Novamente Sebastião Messi pelo meio, tira Manuel Maicon do caminho, abre na esquerda para Hélio Lima, que apercebendo-se da aproximação de Helton Tinoco, tira o cruzamento para o 2º poste, é Rido Gaitán que aparece isolado para fazer o remate e… incrível defesa de Helton Tinoco… Este jogador não anda, ele voa… num segundo está no 1º poste e logo de seguida já está no 2º poste a fazer mais uma brilhante defesa… Melhor guarda-redes do mundo, com certeza…

85’ – 2ª substituição do jogo. Manuel Maicon troca de posição com Helton Tinoco. O primeiro recua para a baliza e o segundo sobe no terreno para lateral esquedo.

89’ – O jogo já se aproxima do fim. É o Benfica no ataque. Sebastião Messi arranca pelo lado direito, aproxima-se da área, Helton Tinoco aproxima-se Sebastião Messi parte para finta, Helton Tinoco mete o pé à bola e grande desarme de Helton Tinoco, de meter inveja até mesmo a Puyol. Entrega já no meio para Fernando Alberto Otamendi, vê a desmarcação na direita de João Agostinho Moutinho, ele recebe a bola, olha para a área, vê Helton Tinoco a entrar na área à velocidade da luz, João Agostinho Moutinho cruza para a área, Helton Tinoco antecipa-se a Moisés Sidney, estica a sua perna de 3metros e meio, desvia, com um ligeiro toque, a bola de Jeremias Artur e GOOOOOOLLLLLLLOOOOOOO. Incrível este jogador. O melhor em campo… Não só brilhou na baliza evitando que a sua equipa sofresse mais de 10 golos, como de seguida dá uma arrancada pela esquerda, de área a área, para restabelecer o resultado final. 9-2 para o Futebol Clube do Porto de Laleia na melhor partida de futebol alguma vez realizada…

90’ – O árbitro, ou melhor, Fernando Alberto Otamenti, dá por terminada a partida. O Porto vence por 9-2 e sagra-se campeão franciscano da taça FREI ISIDÓROS CUP. {#emotions_dlg.portugal}

Amiguinhos foi realmente assim que aconteceu, não estou a exagerar… :P Eu sei que podem dizer “Ah e tal, mas vocês jogaram quase todo o jogo com mais um”. Está certo, mas o Benfica tinha o Messi… Ainda pensei em convidar o Cristiano Ronaldo, mas não quis que o Messi ficasse intimidado com a sua presença… {#emotions_dlg.blink}

Paz e bem amiguinhos! Estaremos juntos na oração e no coração. {#emotions_dlg.heart}

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por missao em timor às 08:44


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