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Missão em Timor

Durante 3 anos estarei a fazer uma missão em Timor, pela Ordem dos frades menores capuchinhos, e neste blog tenciono contar todas as minhas aventuras e a percepção que vou tendo dos acontecimentos, tudo de uma forma peculiar que só eu sei viver :D


Quinta-feira, 11.07.13

Hamburger para o almoço? Parece que não é desta...

Olá amiguinhos, tenho uma correcção a fazer. Na publicação anterior referi as actividades como tendo decorrido no mês de Maio, mas enganei-me, tudo decorreu ainda durante o mês de Abril…

Queria partilhar com vocês algo que não estava mesmo à espera que me fosse acontecer, principalmente no ensino superior, mas quero fazê-lo não para me gabar, mas porque é algo que me deixa mesmo muito feliz e recompensado por todo o esforço que tenho feito. Falo das minhas notas do 1º semestre do curso de filosofia:

História da filosofia antiga – 16

Introdução à filosofia – 17

Lógica – 17

Introdução à psicologia – 18

Filosofia do conhecimento – 19

Ética social – 19

Fiquei sem palavras quando vi estas notas. Mas acho que sei porque tenho notas tão altas, não é porque realmente domine a matéria, é mais porque os professores não dominam muito o português e ao olhar para o que escrevi devem pensar “Não percebo bem o que ele escreveu, mas deve estar correcto”, daí as classificações elevadas… {#emotions_dlg.lol}

Continuando com a aventura, No dia 16 de Abril tivemos dupla festa, não só celebramos o aniversário do frei Filipe, missionário em Laleia, como também celebramos o dia da vocação franciscana. De manhã fizemos a nossa pequena celebração, juntamente com as irmãs franciscanas dos sagrados corações e as irmãs concepcionistas ao serviço dos pobres, celebrando a eucaristia e a oração de laudes toda ela relacionada com o franciscanismo, desde cânticos, salmos e leituras retiradas das fontes franciscanas. De tarde, depois do almoço dirigimo-nos todos para Laleia não só para celebrarmos este dia tão importante para a família franciscanas com os nossos irmãos de lá mas também para celebrarmos o aniversário do frei Filipe.

 Em Laleia existe uma regra de ouro, todo o animal (cabra ou porco) que entrar no terreno da paróquia e for apanhado passará a ser propriedade dos frades. E como que por bênção de Deus, dois dias antes destas festividades foram apanhados 6 porcos dentro do recinto exterior da Igreja. Todos eles foram mortos no dia seguinte e cozinhados especialmente para celebrar estas duas festas. Como se pode perceber, o que não faltava à mesa era carne, mas também tínhamos um grande peixe, de meio metro de comprimento (medido por um pescador), massa e arroz… muito arroz. Depois das festas regressamos todos a Tíbar, de noite, com ruas completamente negras da escuridão, onde a única luz que se via eram as dos faróis dos carros que se cruzavam connosco (Por cá só uma rua é que tem postes de iluminação)… Mas voltamos felizes por termos celebrado o dom da vida de mais um irmão. {#emotions_dlg.food}

Quando o superior da fraternidade de Tíbar, o frei Fernando, tomou posse começou a fazer algumas mudanças. Primeiro foi na disposição das cadeiras da capela, removeu algumas que estavam a mais de modo a que pudesse haver mais espaço livre para circulação e por fim foi a mudança da sala de refeições, que antes era na sala de tv e agora passou a ser na cozinha. Como a cozinha é pequena e vento é o que menos há em Timor, as refeições começaram a ficar um pouco desagradáveis devido ao excesso de calor. Para combater esse calor o frei Fernando decidiu abrir uma esplanada mesmo por detrás da cozinha para termos um local fresco para podermos almoçar mais à vontade. Apesar de ser frade e de fazer voto de pobreza, posso dizer que almoço todos os dias “fora de casa”, viva o luxo…{#emotions_dlg.sarcastic}

Era segunda-feira, dia 22, véspera da minha primeira frequência, a disciplina era História da Filosofia Antiga e o tema era “Os pré-socráticos”… Tinha que os saber todos… Tinha a cabeça em águas de bacalhau, tinha vindo a estudar intensamente à quase uma semana e, quando pensava tirar o dia para rever tudo e ter a certeza que estava preparado para o exame marcaram-me uma ida à fronteira de Timor com Indonésia para obter o visto de trabalho… Fiquei desesperado, sabia que durante a viagem não iria conseguir estudar, porque não consigo ler numa viagem de carro, e quando chegasse à fronteira também não iria poder estudar, porque o tempo seria usado para tratar dos documentos, logo não iria estudar nada… que fazer? Fácil, como diz o povo “quem não tem cão caça com gato”, pois eu digo quem não pode ler… ouça… gravei todos os meus apontamentos para o meu MP3 com a minha voz sedutora (ao fim de 5min já estava farto de a ouvir) e assim fiquei tranquilo, porque apesar de estar a viajar ia poder estudar…{#emotions_dlg.dork}

Partimos muito cedo rumo à indonésia, eu, o frei Isidóros e o Rafael, que também ia tratar dos seus documentos. Ainda o sol dormia quando arrancamos. Não comecei logo a estudar, primeiro ainda ouvi umas músicas e conversei um pouco com os meus companheiros de viagem para despertar. A meio da viagem, depois de bem desperto, liguei o meu MP3 com a gravação do que tinha que estudar e comecei a ouvir, repetindo os pontos mais importantes, para ajudar a memorizar a matéria, até que, passados 5min, o inevitável aconteceu… sozinho no banco de trás, estiquei-me todo e… zzzzzzzzzzz… sim, adormeci… Despertei já perto da fronteira e sem nada estudado. Começamos a tratar dos papéis e, depois de subornar o polícia que controla a fronteira de Timor com 270 Dólares, lá entrei na Indonésia (na verdade não tive que subornar ninguém, o meu visto é que tinha expirado à 3meses atrás e eu não o tinha renovado, por isso paguei multa). Estava entusiasmado por entrar na Indonésia, conhecer um novo país e comer um hamburger (eles têm McDonald’s), estou a morrer de desejo por comer um,

o problema é que o frei Isidóros não tinha a mesma intenção. A cidade ficava longe, não tínhamos transporte, porque o carro teve que ficar estacionado na fronteira (também precisa de visto para mudar de país) e não tínhamos quase dinheiro nenhum indonésio (não sei o nome da moeda deles), mas sempre deu para beber uma coca-cola… {#emotions_dlg.snob}

Ainda eram 11h (mais ou menos) quando voltamos a entrar em Timor, agora tudo legalizado. Estávamos prontos para entregar os papéis para receber o visto de trabalho quando nos disseram que o único comandante que nos pode carimbar e assinar o visto de trabalho estava em Maliana e só chegava às 14h. Para um timorense as 14h deles são as 16h num relógio universal… Fomos procurar um restaurante para almoçar e para fazer a digestão demos uma volta pela praia, mas sem mergulho… o meu primeiro mergulho só aconteceria a 2 Junho, mas depois conto-vos essa história… Com as 14h a aproximarem-se metemo-nos no carro e voltamos para a fronteira. Como era de esperar, o comandante ainda não tinha chegado e eu cada vez mais preocupado com a frequência do dia seguinte… com um calor a rondar os 40º, só com meia garrafa de água de 33cl e sem nenhum local com sombra, decidi aventurar-me, pegar nos meus resumos (em papel, que também tinha levado) e comecei a estudar… Lia e relia, tentava explicar todas as teorias de todos os filósofos sem olhar uma única vez para o papel enquanto caminhava de um lado para o outro, feito barata tonta, na fronteira… Ao fim de meia hora nisto fiquei cansado (o sol era mesmo muito) e fui sentar-me junto do Rafael. Maldita hora em que ele me perguntou o que estava a estudar… levou com um ensino de História da Filosofia pré-socrática que ao fim de 15min já estava a perguntar quando me calava…{#emotions_dlg.secret} tive pena dele…

O comandante até nem se atrasou muito, chegou pouco depois das 14:30h, para grande admiração minha. Assinei os últimos papéis e, finalmente, fizemo-nos à estrada, de regresso a casa. Chegado a casa lanchei, bebi um café bem forte e voltei ao estudo, cada vez mais desesperado, não estava seguro para fazer o exame, tinha a certeza que ia reprovar, ainda para mais eu tenho esta maldição a Filosofia de nunca ter tirado positiva em nenhum exame… Chegou o dia da frequência, toda a gente entusiasmada a rever a matéria e eu desesperado a andar de um lado para o outro, com as mãos na cabeça e com único pensamento “eu não sei nada”… Chega a hora do exame, nervoso entro na sala… o professor tarda em aparecer… o tempo passa e o meu nervosismo aumenta… de repente entra o chefe de turma com uma folha na mão e começa a escrever no quadro “Perguntas de exame: A) Diga o pensamento de todos os filósofos naturalistas. B) Diga o pensamento dos filósofos sofistas. C) Diga o pensamento de Sócrates”. Meti as mãos à cabeça, não sabia falar de TODOS os naturalistas e não fazia ideia qual o pensamento dos sofistas… Comecei a bater com a cabeça na mesa (não literalmente) quando reparo numa nota escrita no lado direito inferior do quadro, em Tetum, e que referia qualquer coisa com “livro”. Perguntei o que significava aquilo e disseram-me “O professor disse que o exame era de consulta, desde que as respostas não fossem cópias exactas do livro”… Dei um suspiro de alívio e uma gargalhada enorme… tanto stress e tanta dor de cabeça para no final poder fazer copy-paste do meus apontamentos, que definitivamente não eram iguais aos do livro… No final tive 17… Com isto aprendi uma lição “perguntar sempre ao professor a modalidade do exame, o que se pode e o que não se pode fazer e levar para o exame… poupa-se nas dores de cabeça e no café…” {#emotions_dlg.blink}

Paz e bem amiguinhos! Estaremos juntos na oração e no coração! {#emotions_dlg.heart}

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por missao em timor às 08:48

Sexta-feira, 08.03.13

Historinhas da avó...

Olá amiguinhos! No dia seguinte à chegada do Concelheiro Geral, no Domingo 17, fizemos o nosso primeiro passeio oficial do pós-noviciado. Acontecerá uma vez por mês e tem como fundamento não só passarmos uma tarde todos juntos, mas também conhecermos melhor Timor, pelo menos eu {#emotions_dlg.clown} Em Junho, cabe-me a mim organizar, só não sei ao certo aonde irei, mas provavelmente será à praia. Fomos visitar o monumento que, desde que soube que vinha para Timor, todos os meus amigos que já passaram por cá me incentivaram a visitar. A estátua de Cristo Rei de braços abertos, virada para o mar, igual à estátua que temos em Portugal. Primeiro fomos deixar o frei Fernando em casa de uma irmãs indonésias a fim de participar numa reunião, depois peguei no carro e foi sempre a abrir… e lá ia eu a conduzir cheio de estilo, de sandálias nos pés, calções de ganga, camisa com o último botão aberto para se ver os pelos do peito (mesmo à tuga), óculos de sol e chapéu… musica sempre a bombar e a conduzir a alta velocidade 30/40km/h, nalguns troços ainda deu para chegar aos 50km/h, mas para evitar as multas por excesso de velocidade não abusei… Estou a brincar, a estrada para Cristo Rei tem tantos buracos que no dia que fizerem um metro subterrâneo não vão precisar escavar muito… e lá ia eu a conduzir cheio de estilo, com uma mão no volante, outra apoiada na janela do carro e a mirar as pessoas que estavam nas praias ao longo da costa marítima… Tenho-vos a dizer que não vi praias tão maravilhosas e tão desvalorizadas como as de Timor. Neste país há muito por onde investir, principalmente no que se refere ao turismo.

Estava ainda eu maravilhado a apreciar a costa marítima quando chegamos ao local. Estacionei o carro num local próprio para estacionamento e foi aí que me comecei a arrepender de ter dito que queria visitar Cristo Rei. É que nós estávamos em frente à praia e a estátua fica no topo da montanha, ou seja, iria ter de subir e muito para lá chegar… Toda a zona está muito bem preparada, tem uma calçada para se pode passear, sítio para sentar, relaxar e merendar, vendedores ambulante e um bar com música para dançar. Para se chegar ao Cristo Rei é preciso subir uma escadaria (e nada pequena). As escadas são grandes, largas, bem pintadas e, ao longo da escadaria, uma via-sacra pintada embutida na parede. Comecei a subir cheio de vontade, até que nunca mais via o fim. Passados 15min de caminhada pergunto mais ou menos quanto tempo dura a subida e me dizem que é cerca de 1:30h… Ia tendo um ataque cardíaco, tanto tempo a subir escadas?! Não estava habituado, ia morrer pelo caminho e o pior é que, se eu não fosse para o carro mais ninguém podia ir para casa, porque só eu é que sei conduzir… à medida que íamos subindo as escadas íamos conversando, contando umas piadas, trocando umas experiências e quando dou por mim lá estava eu frente-a-frente com a estátua… Afinal a 1:30h que me falaram não passou de 45min… Tirei as mais maravilhosas fotos que poderia tirar em Timor, deliciei-me com as excelentes paisagens deste país e vi a praia mais maravilhosa que alguma vez vi na vida (ao vivo, porque nos postais já vi muitas maravilhas). O meu espanto foi vê-la deserta. Perguntei se aquelas praias estavam desertas por dificuldades de acesso, mas ao que parece elas estão desertas, porque o timorense não é grande adepto de praias… podem ficar chocados, sim, eu também fiquei chocado quando me disseram isso… Aqui vão algumas dessas maravilhas:

Durante a tarde tive a primeira grande oportunidade para dar um mergulho, tinha a tarde por minha conta, o mar mesmo em frente e estava de calções de banho. Mas não foi desta que entrei totalmente no mar, só molhei os pés. Eu estava cansado de ter subido até ao Cristo Rei, não estava ninguém na água, o tempo não estava nada convidativo para mergulhos, ameaçava chover e nenhum dos rapazes estava com vontade de me acompanhar no mergulho. Com tantas contradições decidi fazer aquilo que mais gosto de fazer quando estou aborrecido, tirar fotos. J O regresso a casa foi tranquilo, a velocidade manteve-se reduzida, acho que o regresso foi ainda mais lento que a ida, o estilo à Zezeca Marinha mantinha-se e no rádio bombava o melhor do rock dos anos 60, 70 e 80… Foi conduzir e dançar como se não houvesse amanhã… J Durante o regresso paramos para ir buscar o frei Fernando e chegamos a casa completamente esgotados de uma agradável tarde bem passada J

A semana seguinte foi semana de despedidas, umas definitivas, outras temporárias. O Concelheiro Geral colocou a mochila às costas e continuou a sua visita às várias províncias capuchinhas na Ásia. A próxima paragem será o Japão. Nesse mesmo dia, o Provincial frei António Martins rumou até Laleia a fim de visitar a nossa outra fraternidade para também conversar com os frades que lá residem.

Estava eu a jantar todo contente, com as conversas normais que vamos tendo durante as refeições, quando de repente sinto o meu prato a fugir da minha frente e a alguém a abanar a minha cadeira. Como estávamos todos sentados comecei a ficar assustado. Visto que não podia ser nenhuma brincadeira dos frades presentes comecei logo a lembrar-me das histórias paranormais que me contaram. Como ninguém comentava nada pensei ser o único a senti-lo, comecei a questionar-me porque os fantasmas (caso fossem mesmo eles) me estariam a fazer aquilo, porque não me deixavam comer, porque me estavam a abanar daquela maneira, podia apanhar um congestão… se ainda fosse de noite na cama, até poderia servir para ajudar-me a adormecer (quem não gosta de dormir embalado?!). A seguir reparo que não é só a minha cadeira que abanava, mas a casa toda até que começaram os primeiros comentários… primeiramente questionámo-nos o que se estava a passar, de seguida vieram as primeiras teorias, e mais acertadas que as minhas. Era um sismo… a intensidade não foi muito grande, mas deu para sentir… acabado o abalo todos nos rimos e voltamos ao nosso saboroso jantar {#emotions_dlg.happy}

Fui à biblioteca pegar um livro para ler, no meu pouco tempo livre, quando deparo com um livro interessante sobre a cultura dos nossos antepassados. É um livro da editora Europa-América e chama-se “Contos populares portugueses”. Decidi lê-lo não só para conhecer mais sobre a cultura dos nossos antepassados, mas para ver se reconhecia algumas das histórias que a minha tia me costumava contar (encontrei duas, mas um pouco distorcidas). Abri o livro à sorte e foi esta a primeira história que encontrei:

 

OS FRADINHOS PREGADORES

Uma vez, eram dois fradinhos que andavam a pregar pelo mundo e anoiteceu-lhes no meio de um monte. Viram reluzir numa casinha. Foram lá bater para os deixarem passar a noite.

Na casinha moravam uma velhinha e o seu neto. Os frades pediram para lá dormir e ela respondeu que sim, mas que era muito pobrezinha e não tinha onde os deitar.

Eles não se importaram, dizendo que até podiam ficar sentados a um cantinho. Entraram e puseram-se ao lume.

A velha tinha lá uns ovinhos e deu-lhos, para eles não ficarem sem ceia. Mesmo assim, não havia azeite para os fritar. Porém, os fradinhos responderam que eles aqueceriam os ovos no borralho. Depois começaram a cuspir-lhes e só então é que os puseram ao lume.

O neto da velha estava muito admirado e perguntou para que cuspiam nos ovos. Os fradinhos responderam que era para eles não estoirarem. E de pronto o rapaz:

- Se os senhores cuspissem no rabo da minha avó, é que era, pois toda a noite estoira!... {#emotions_dlg.happy}

Depois desta história só queria era ler o livro todo. Esta história dedico-a à minha tia que muitas outras me contou.

Paz e bem amiguinhos! Estaremos juntos na oração e no coração! {#emotions_dlg.heart}

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por missao em timor às 01:59

Domingo, 18.11.12

Ir a Dilli de carro? Puff, básico...

Acordei às 5:30h da manhã, cheio de sono, por incrível que pareça, o galo ainda não cantava e o sol ainda dormia. Precisava despertar, decidi tomar um banho de água fria… Tomei o pequeno-almoço mesmo sem conseguir comer muito (um chá e uma fatia de pão), o estômago estava apertado, ansioso, tinha uma longa viagem pela frente até Dilli e era eu o condutor… {#emotions_dlg.sidemouth}

Combinei encontrar-me com a leiga missionária, a Joana, as 6h da manhã… chegou a hora marcada e nem sinal dela, o tempo passava e só pensava “A Joana pensou duas vezes e decidiu não arriscar” e eu suspirava de alívio por tal decisão… 15min depois aparece ela toda sorridente e a dizer que estava pronta para a viagem… Sabia que não havia volta a dar, tinha que arriscar passar por estradas estreitas que num pequeno deslize nos podia levar a cair num abismo onde o mar é o que nos espera para nos engolir…

O resumo da viagem é: “Cuidado… trava, trava, trava… páaaaraaaaaaa… olhóóóóóóóó buraaaaaaaaco… cuidado com o carro… vira, vira,vira… cuidado com mota…. foooooogggggoooooo que susto… és doido…. Páaaaaaraaaaa”… Estou a brincar, tirando parte do “olha o buraco” e “cuidado com a mota” o resto não aconteceu {#emotions_dlg.tongue}

A viagem até Dilli foi simples e pacata, o pior foi quando entramos na cidade… Todo o mundo conduz a uma velocidade infernal de 30km/h, e como não podia deixar de ser, aqui o malai (estranja em Tetum) mostrou-lhes que 30km/h é para meninas e dei-lhe prego a fundo nos 40km/h… ah pois é, parecia um piloto de WRC… {#emotions_dlg.happy} Cedo percebi que ia ter muitos problemas em Dilli, não se guiam por uma faixa, se há espaço para colocar o carro eles lá entram e a palavra prioridade não entra no dicionário deles… É cada um por si… Todos os semáforos que passei estavam desligados até que de repente “olhóóóóó vermelhooooo” travagem imediata a fundo, as rodas até derraparam, mas parei a tempo… finalmente um semáforo a funcionar… foi cá um susto e uma risada ao mesmo tempo… {#emotions_dlg.clown} As motas são outro problema, elas nascem do nada… olhei para o espelho retrovisor e nada, estrada limpa, vou para mudar de faixa e lá aparece uma mota… e vinha a um velocidade igual à minha… elas aparecem do nada… uma pessoa é capaz de ter a estrada limpa e de repente aparecerem 10 motas seguidas umas pelo lado esquerdo outras pelo lado direito… São pior que as mosas…

Como é obvio dentro da cidade fui recebendo indicações por onde deveria ir… até chegar ao seminário onde vou estudar o frade que ia connosco foi dando as instruções, no regresso achou que eu já sabia o caminho e ficou calado… fui sempre em frente, passado um cruzamento ele diz-me “Era para virar à esquerda” “E só me dizes agora?” “Pois, esqueci-me!” “Tudo bem, mais à frente volto para a estrada correcta”… o estranho foi ver alguns carros a vir na direcção contrária à minha e nenhum na minha direcção… apesar de ouvir as típicas buzinadelas não liguei muito, porque eles aqui não buzinam para reclamar, buzinam para ultrapassar, cumprimentar e afastar os animais da estrada. Todos os carros buzinavam até que um condutor falou rispidamente para mim e, como não percebi, perguntei ao frade que ia comigo o que se passava e ele lá me esclareceu “Tás em contramão”… Fiquei sem reacção… mas consegui voltar à estrada correcta sem nenhum problema… Durante a viagem pela cidade de Dilli tive que evitar dois acidentes, tudo por causa das malditas motas…

O regresso é que foi mais assustador, viajar do lado do precipício numa rua estreita em que mal cabem dois carros e sem barreiras laterais para proteger é asustador, ao mínimo deslize poderíamos cair e seria um enorme tombo… volta e meia só via a Joana a dar sinal com o braço como que a dizer “Chega-te mais para a direita”… ia mesmo muito perto da berma da estrada, mas era uma linda paisagem… :D Pode-se dizer que a viagem foi tranquila e até consegui evitar mais buracos que na ida, mas o pior ainda estava para vir… A poucos quilómetros de chagar a Laleia e já depois de ter chovido bastante eis que surge uma grande fila de carros… Pensei em acidente, pensei que nunca mais iria sair de lá e dar a volta estava fora de questão por ser a única estrada que liga Dilli a Laleia… O frei Jesuíno foi informar-se do que se passava… ninguém podia passar, a estrada estava feita em lama, ninguém arriscava meter o carro lá a não ser que tivesse tracção às quatro rodas… e foi aí que surgiu a luz ao fundo do túnel… o nosso carro tem tracção, agora é só liga-la e fazer-nos à estrada a fim de voltar para casa… E eis que surge um novo problema, nenhum de nós sabe como se liga a tracção… e agora, que fazer? Quando três cabeças pensam ao mesmo tempo, tudo se resolve… Decidimos ligar ao Frei Fernando e ele lá nos explicou como tudo funcionava… afinal bastava mudar a patilha das rodas da frente para unlock e puxar a mudança da tracção toda para trás… difícil, onde é que alguma vez chegaria lá… voltamos à estrada e recomeçou a aventura… a partir do momento que o carro entrou todo na lama percebi que a tarefa não ia ser nada fácil… perdi praticamente todo o controlo que tinha na diracção, o carro virava para onde queria e eu bem tentava contradizê-lo, mas com pouco sucesso… o carro deslizava da esquerda para a direita tão descontroladamente, e eu não ia a mais que 5km/h, que eu estava a ver quando é que ia bater num monte de pedregulhos que lá havia, ou numa mota (sim, tinha que haver a mota) que por lá passava ou, na pior das hipóteses, caísse precipício abaixo… eu parecia que estava a fazer jet-ski com o carro e o pessoal que estava na estrada (ou no que restava dela) assistia todo contente rindo-se e gozando comigo chamando-me de malai… mas não me deixei ficar, cada vez mais decidido avancei e, depois de muito esforço e suor lá consegui atravessar a estrada, sem nenhum acidente… Gritei de alegria, tinha feito o que muitos timorenses não fizeram, cruzei a meta e como recompensa ouço um “Puff malai”… Incrível, depois deste grande feito e é assim que me dão os parabéns… Mas tudo bem, o que interessa é que a viagem correu bem, chagamos a casa são e salvos, mas não prontos para outra… pelo menos eu… {#emotions_dlg.brrrpt}

Paz e bem amiguinhos! Estaremos juntos na oração e no coração! {#emotions_dlg.heart}

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por missao em timor às 01:23

Segunda-feira, 01.10.12

Entra e sai de aviões...

Começou a minha grande viagem. Para trás deixo família e amigos e todo o conforto a que estamos habituados. Do outro lado abraço o desconhecido, um mundo que se irá revelar. Como vou enfrentar esta nova realidade? Não sei, mas que me vou entregar de corpo e alma a este povo que tanto precisa de mim está prometido que o farei. {#emotions_dlg.happy}

Não me despedi de toda a gente, até fui ingrato para algumas pessoas, mas custa tanto dizer adeus… Fui frio, eu sei, mas se me queria libertar para me poder entregar todo a esta missão tinha que o ser… Não se chateiem, estarão sempre comigo presentes no meu coração.

Não vou poder acompanhar o campeonato português, os jogos lá são transmitidos às 4h da manha, mais coisa, menos coisa. Gosto de futebol e do Futebol Clube do Porto, mas acordar de madrugada para ter ataques cardíacos nem pensar. Qual é a equipa que adormece em campo com apenas 0-1 de diferença? Jackson tenho esperanças em ti. {#emotions_dlg.happy}

Criticam os portugueses por não saberem dar indicações, mas tenho a dizer-vos que em Londres ainda é pior. Nunca peçam uma segunda opinião, peçam uma terceira, só assim poderão avaliar qual a mais correcta. Foram essas “informações correctas” dos funcionários do aeroporto de Heathrow que me fizeram correr todo o aeroporto, e não é nada pequeno, só para me encontrar com o padre que me está a acompanhar. W não só não encontrei o padre como quase que chegava atrasado ao avião. Faltavam 30min para o avião descolar e ainda estavam a analisar o conteúdo da minha mala. Foi de loucos.

No avião encontrei a minha companhia e a partir daí a viagem tem sido tranquila. Durante os voos quase não tenho dormido, mas já vi o novo filme do Homem Aranha, Brave, MIB III e alguns episódios das series HIMYM, 2 broke girls, Simpsons e The big bang theory. Deu para passar o tempo. {#emotions_dlg.happy}

Dei graças a Deus por ter chegado a Singapura. Finalmente comi comida de jeito. Mc Donald’s… soube tão bem… {#emotions_dlg.happy} Já só falta mais um voo para chegar a Timor. Pela frente ainda me esperam uma longa noite no aeroporto e uma viagem de cerca de 5horas de avião. Assim que puder vou continuando a dar notícias.

Paz e bem meus amiguinhos! Estaremos juntos na oração e no coração. {#emotions_dlg.heart}

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por missao em timor às 14:15


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