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Missão em Timor

Durante 3 anos estarei a fazer uma missão em Timor, pela Ordem dos frades menores capuchinhos, e neste blog tenciono contar todas as minhas aventuras e a percepção que vou tendo dos acontecimentos, tudo de uma forma peculiar que só eu sei viver :D


Domingo, 18.11.12

Ir a Dilli de carro? Puff, básico...

Acordei às 5:30h da manhã, cheio de sono, por incrível que pareça, o galo ainda não cantava e o sol ainda dormia. Precisava despertar, decidi tomar um banho de água fria… Tomei o pequeno-almoço mesmo sem conseguir comer muito (um chá e uma fatia de pão), o estômago estava apertado, ansioso, tinha uma longa viagem pela frente até Dilli e era eu o condutor… {#emotions_dlg.sidemouth}

Combinei encontrar-me com a leiga missionária, a Joana, as 6h da manhã… chegou a hora marcada e nem sinal dela, o tempo passava e só pensava “A Joana pensou duas vezes e decidiu não arriscar” e eu suspirava de alívio por tal decisão… 15min depois aparece ela toda sorridente e a dizer que estava pronta para a viagem… Sabia que não havia volta a dar, tinha que arriscar passar por estradas estreitas que num pequeno deslize nos podia levar a cair num abismo onde o mar é o que nos espera para nos engolir…

O resumo da viagem é: “Cuidado… trava, trava, trava… páaaaraaaaaaa… olhóóóóóóóó buraaaaaaaaco… cuidado com o carro… vira, vira,vira… cuidado com mota…. foooooogggggoooooo que susto… és doido…. Páaaaaaraaaaa”… Estou a brincar, tirando parte do “olha o buraco” e “cuidado com a mota” o resto não aconteceu {#emotions_dlg.tongue}

A viagem até Dilli foi simples e pacata, o pior foi quando entramos na cidade… Todo o mundo conduz a uma velocidade infernal de 30km/h, e como não podia deixar de ser, aqui o malai (estranja em Tetum) mostrou-lhes que 30km/h é para meninas e dei-lhe prego a fundo nos 40km/h… ah pois é, parecia um piloto de WRC… {#emotions_dlg.happy} Cedo percebi que ia ter muitos problemas em Dilli, não se guiam por uma faixa, se há espaço para colocar o carro eles lá entram e a palavra prioridade não entra no dicionário deles… É cada um por si… Todos os semáforos que passei estavam desligados até que de repente “olhóóóóó vermelhooooo” travagem imediata a fundo, as rodas até derraparam, mas parei a tempo… finalmente um semáforo a funcionar… foi cá um susto e uma risada ao mesmo tempo… {#emotions_dlg.clown} As motas são outro problema, elas nascem do nada… olhei para o espelho retrovisor e nada, estrada limpa, vou para mudar de faixa e lá aparece uma mota… e vinha a um velocidade igual à minha… elas aparecem do nada… uma pessoa é capaz de ter a estrada limpa e de repente aparecerem 10 motas seguidas umas pelo lado esquerdo outras pelo lado direito… São pior que as mosas…

Como é obvio dentro da cidade fui recebendo indicações por onde deveria ir… até chegar ao seminário onde vou estudar o frade que ia connosco foi dando as instruções, no regresso achou que eu já sabia o caminho e ficou calado… fui sempre em frente, passado um cruzamento ele diz-me “Era para virar à esquerda” “E só me dizes agora?” “Pois, esqueci-me!” “Tudo bem, mais à frente volto para a estrada correcta”… o estranho foi ver alguns carros a vir na direcção contrária à minha e nenhum na minha direcção… apesar de ouvir as típicas buzinadelas não liguei muito, porque eles aqui não buzinam para reclamar, buzinam para ultrapassar, cumprimentar e afastar os animais da estrada. Todos os carros buzinavam até que um condutor falou rispidamente para mim e, como não percebi, perguntei ao frade que ia comigo o que se passava e ele lá me esclareceu “Tás em contramão”… Fiquei sem reacção… mas consegui voltar à estrada correcta sem nenhum problema… Durante a viagem pela cidade de Dilli tive que evitar dois acidentes, tudo por causa das malditas motas…

O regresso é que foi mais assustador, viajar do lado do precipício numa rua estreita em que mal cabem dois carros e sem barreiras laterais para proteger é asustador, ao mínimo deslize poderíamos cair e seria um enorme tombo… volta e meia só via a Joana a dar sinal com o braço como que a dizer “Chega-te mais para a direita”… ia mesmo muito perto da berma da estrada, mas era uma linda paisagem… :D Pode-se dizer que a viagem foi tranquila e até consegui evitar mais buracos que na ida, mas o pior ainda estava para vir… A poucos quilómetros de chagar a Laleia e já depois de ter chovido bastante eis que surge uma grande fila de carros… Pensei em acidente, pensei que nunca mais iria sair de lá e dar a volta estava fora de questão por ser a única estrada que liga Dilli a Laleia… O frei Jesuíno foi informar-se do que se passava… ninguém podia passar, a estrada estava feita em lama, ninguém arriscava meter o carro lá a não ser que tivesse tracção às quatro rodas… e foi aí que surgiu a luz ao fundo do túnel… o nosso carro tem tracção, agora é só liga-la e fazer-nos à estrada a fim de voltar para casa… E eis que surge um novo problema, nenhum de nós sabe como se liga a tracção… e agora, que fazer? Quando três cabeças pensam ao mesmo tempo, tudo se resolve… Decidimos ligar ao Frei Fernando e ele lá nos explicou como tudo funcionava… afinal bastava mudar a patilha das rodas da frente para unlock e puxar a mudança da tracção toda para trás… difícil, onde é que alguma vez chegaria lá… voltamos à estrada e recomeçou a aventura… a partir do momento que o carro entrou todo na lama percebi que a tarefa não ia ser nada fácil… perdi praticamente todo o controlo que tinha na diracção, o carro virava para onde queria e eu bem tentava contradizê-lo, mas com pouco sucesso… o carro deslizava da esquerda para a direita tão descontroladamente, e eu não ia a mais que 5km/h, que eu estava a ver quando é que ia bater num monte de pedregulhos que lá havia, ou numa mota (sim, tinha que haver a mota) que por lá passava ou, na pior das hipóteses, caísse precipício abaixo… eu parecia que estava a fazer jet-ski com o carro e o pessoal que estava na estrada (ou no que restava dela) assistia todo contente rindo-se e gozando comigo chamando-me de malai… mas não me deixei ficar, cada vez mais decidido avancei e, depois de muito esforço e suor lá consegui atravessar a estrada, sem nenhum acidente… Gritei de alegria, tinha feito o que muitos timorenses não fizeram, cruzei a meta e como recompensa ouço um “Puff malai”… Incrível, depois deste grande feito e é assim que me dão os parabéns… Mas tudo bem, o que interessa é que a viagem correu bem, chagamos a casa são e salvos, mas não prontos para outra… pelo menos eu… {#emotions_dlg.brrrpt}

Paz e bem amiguinhos! Estaremos juntos na oração e no coração! {#emotions_dlg.heart}

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por missao em timor às 01:23

Domingo, 28.10.12

Conduzir? Eu? Só se fizer rally!!!!!!!

Olá amiguinhos, finalmente senti-me útil durante a minha estadia em Timor. Não falo do meu trabalho na fraternidade, que apesar de pouco tem a sua importância. Falo do meu contributo para a sociedade. Apesar de não ter sido nada de extraordinário, como eu verdadeiramente gostaria de fazer, acabou por ser uma boa acção. Depois de ganhar experiência a fazer curativos aos meus dedos, já são dois os dedos magoados, decidi pôr essa experiência em prática. No átrio da igreja estávamos eu, um grupo de crianças e outro frade na conversa quando deparo que o joelho de uma das crianças estava a sangrar, mas uma ferida bem grande e com fortes possibilidades de infeccionar se não fosse bem tratada. Não aguentei ver aquilo naquele estado, a ferida estava tapada com um farrapo velho, o sangue estava sempre a escorrer e a ferida não tinha sido minimamente tratada e pedi à rapariga para esperar um pouco e fui a casa buscar água oxigenada, betadine, algodão e uma gaze para fazer o curativo. Com muito jeitinho tratei a ferida. Com a água oxigenada limpei a ferida, que deitou mesmo muito pus, estanquei o sangue e coloquei o betadine e a gaze. O sorriso da criança no final foi a melhor recompensa que poderia ter recebido… Quando a criança foi embora apareceram outras que me foram mostrando as suas feridas, já toda saradas, mas que me fez reflectir. Estas crianças não têm noção do perigo de uma ferida mal tratada, se calhar deveria sensibilizá-los e até mesmo trata-los… A partir de agora estarei mais atento às crianças fazendo-lhes os curativos às feridas que elas forem apresentando… {#emotions_dlg.happy}

Sou um perigo na estrada… Era preciso ir às compras, ou seja, era preciso ir à cidade vizinha, porque em Laleia não há muita coisa à venda. Como a casa só tem dois condutores, eu e um padre, e o padre estava indisponível, lá fui eu aventurar-me. A distância é mais ou menos como do Porto a Gondomar (para quem é do sul Lisboa-Setúbal). Começo a aventura, mentalizo-me que tenho que conduzir pela esquerda e faço-me à estrada. Inicialmente tudo tranquilo, conduzindo entre os 30-50km/h até ao momento em que me habituo à estrada e, vendo-a tão livre e em condições minimamente apresentáveis, começo a colocar o pé no acelarador. Má ideia, sempre que chegava aos 90km/h lá aprecia um buraco. Se uns conseguia evitar outros batia em cheio neles. Que loucura, o carro dava cada salto, parecia que estava no filme “Ace Ventura em África” quando ele vai de carro para a floresta. Os saltos eram tantos que quase batia com a cabeça no tejadilho. Só pensava nos amortecedores do carro e a cada buraco novo rezava para que os pneus não furassem… era a loucura. Cheguei ao local sem maiores precedentes, fiz as compras que tinha a fazer e ainda tive que esperar que a mercearia abrisse (Supostamente abria às 16h, mas já eram 16:30h e ainda estava fechada e é uma loja de chineses…) O regresso, que deveria ter sido tranquilo devido à experiência, foi ainda pior. Apesar de evitar melhor os buracos não gostei da forma como um condutor me ultrapassou e decidi pôr pé a fundo, bati recorde de velocidade máxima (100km/h) e pumba… bati em cheio num buraco acontecendo aquilo que mais temia, um furo no pneu… {#emotions_dlg.happy} Primeira coisa a fazer é encontrar pedras grandes para fazer de calço e encontrar duas ou três pedras grandes e lisas para fazer de base para o macaco, senão ele não sobe o suficiente para levantar a roda do carro. Depois segue-se o desapertar dos parafusos, ou o apertar para quem fôr aselha e não souber distinguir para que lado se apertam e desapertam os parafusos… um bónus para mim que me pus aos pulos em cima da chave de desapertar os parafusos, porque o parafuso não queria desapertar, até que me disseram “E se tentasses para outro lado, acho que terias mais sorte”… E tinha razão, ainda bem que não estava sozinho… :D Depois de trocado o pneu voltamos à estrada, mas desta vez com velocidade controlada entre os 30-50km/h… ainda vou aprendendo com os erros… {#emotions_dlg.happy}

Na sexta-feira tivemos uma visita muito especial. As irmãs vitorianas, mais concretamente as postulantes e a sua mestre, vieram de propósito de Baucau a Laleia (viajem mesmo grande e cansativa, tipo Porto-Fátima, mas aos pulos por causa dos buracos) para um retiro. O local escolhido para o retiro foi a nossa igreja, por ser a igreja de espiritualidade franciscana mais próxima. É sempre bom receber alguém que fala português para trocarmos ideias e para eu falar um pouco mais que o habitual. A mestre das postulantes é uma irmã missionária portuguesa e teve a contar-me as suas histórias desde os tempos que veio para cá, já há uns longos anos. Que testemunho, achei fantástico. Apesar de estarem numa casa um pouco isolada da grande concentração populacional, nada a deteve. Quando chegou a Timor, pela primeira vez, foi convidada para dar aulas de português e aqui começaram os desafios, é que nem uma gramática ela tinha. E como quando se tem fé em Deus tudo se resolve, passado umas semanas uma voluntária, que não conhecia a irmã nem o seu trabalho, apareceu em Timor com umas gramáticas e uns dicionários que tanto encheram de alegria a bendita irmã. Outra história que me fascinou foi o testemunho dela que, sem carro (prometeram-lhe um, mas duraram um ano para lho oferecer) fazia todos os dias 13km a pé para o seu trabalho pastoral e para dar aulas de português. É fascinante a forma como estas pessoas se entregam com tudo o que têm aos outros. Uma lição de vida… {#emotions_dlg.happy}

Está quase a fazer um mês que estou cá, passou tão depressa que parece que estou cá há uma semana… {#emotions_dlg.faro}

Paz e bem amiguinhos! Estaremos juntos no coração e na oração! {#emotions_dlg.heart}

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por missao em timor às 07:24


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