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Missão em Timor

Durante 3 anos estarei a fazer uma missão em Timor, pela Ordem dos frades menores capuchinhos, e neste blog tenciono contar todas as minhas aventuras e a percepção que vou tendo dos acontecimentos, tudo de uma forma peculiar que só eu sei viver :D



Segunda-feira, 02.12.13

Um retiro que muda uma vida

Olá amiguinhos! Peço desculpa por não conseguir publicar semanalmente, mas irei tentar fazê-lo mensalmente, no mínimo. {#emotions_dlg.smile}

Continuando a minha aventura (agora com uma racha na cabeça), no dia seguinte ao meu aniversário, no dia 3 de Junho, partimos logo cedo para Dare, para a casa de retiro do ISMAIK (Instituto Sekular Maun Alin Iha Kristu = Instituo secular dos irmãozinhos de Cristo). Desta vez o retiro era para todos os frades capuchinhos em Timor-Leste, mas devido a um contratempo a fraternidade de Laleia não pode comparecer, ficando apenas a minha. Confesso que não estava com vontade nenhuma de ter um retiro, tinha acabado de vir de um, e queria aproveitar o tempo para colocar tanto o blog como a crónica da fraternidade em dia, mas tive de ir e ainda bem que fui, valeu mesmo muito a pena.

O retiro ia ser pregado pela irmã fundadora do ISMAIK, a Mana Lu (Irmã Lurdes) e não havia um tema específico, queríamos apenas que ela nos contasse a sua experiência de vida como fundadora de um instituto que já conta com 25anos de existência e é conhecido um pouco por toda a Ásia e vai começando a ser conhecido na Europa também. Ela domina três línguas, o tétum, o indonésio e o português (o que foi a minha sorte). Em português só fez uma conferência, a primeira, as outras foi em tétum, para que a maioria pudesse entender melhor. Até ia percebendo algumas coisas do que ela dizia nas conferências, mas a grande magia do retiro não aconteceu nesses encontros, aconteceu fora dos encontros, nas horas dedicadas à meditação. Tudo começou quando, estando eu sozinho no refeitório a comer qualquer coisa, apareceu a Mana Lu. Começou a falar comigo e a perguntar se percebia o que ela dizia durante as conferências. Disse-lhe que não percebia muito, só algumas coisas, e começamos a conversar. E foi a partir desse momento que comecei a ter as minhas conferências privadas. Confesso-vos que foram as melhores horas do retiro. Todos os dias, depois da conferência com todo o grupo, encontrávamo-nos só os dois no refeitório para trocar ideias e experiências de vida. Senti-me insignificante perante a experiência de vida dela, como se tudo o que tivesse feito fosse uma migalha no meio dum pão que era a vida dela, percebi que até agora só tinha aprendido a dizer a letra A e que ela já escrevia livros… Tal como disse S. Francisco perto da sua morte “Irmãos comecemos que até agora pouco ou nada fizemos…” e foi este NADA que eu senti, este vazio de acções, de cumprimento da vontade de Deus, que senti quando comecei a ouvir as maravilhosas histórias de vida da Mana Lu. Ela começou tudo quando tinha 14 anos, enfrentou chuva, frio e vento, passou fome, dormiu em casas em ruínas, lutou contra todos os que a queriam deitar abaixo (e continua a lutar), venceu umas batalhas, perdeu outras, mas nunca desanimou e acreditou sempre na Providência Divina que nunca a abandonou.

Vou partilhar um pedaço da vida dela com vocês, aquela história que mais me marcou. Já depois de ter fundado o ISMAIK (não foi a primeira coisa que fez quando sentiu o chamamento de Deus), ela enviou os seus candidatos (rapazes e raparigas que querem seguir o exemplo de vida da Mana Lu) a visitar as aldeias vizinhas para que eles tivessem conhecimento das dificuldades que eles estão a passar e como os poderiam ajudar. Quando chegaram a casa reportaram que havia famílias que nem tinha dinheiro para comprar arroz, que é talvez do alimento mais barato aqui em Timor e aquilo com que normalmente as famílias se alimentam. A Mana Lu não pensou duas vezes, foi à dispensa, pegou em todo o arroz que tinha e mandou distribuí-lo pelas famílias necessitadas. Os candidatos ficaram preocupados, porque depois seriam eles que ficariam sem comer. Ela mandou-os levar o arroz e disse-lhes para acreditarem na Providência Divina, que nunca deixa os seus filhos passar fome. E assim sucedeu, a meio da tarde, enquanto alguns candidatos foram levar o arroz às famílias carenciadas um carro vermelho parou em frente do portão de baixo da casa, buzinou para que se apercebessem que alguém tinha chegado, descarregou vários sacos de arroz e outros alimentos, entrou no carro e foi-se embora sem se identificar… A Mana Lu e alguns candidatos que ficaram em casa ficaram entusiasmados com a oferta e louvaram a Deus pela sua generosidade. Depois de recolhidos os sacos eles não foram imediatamente guardados na dispensa, levaram-na para a capela da casa e esperaram a chegada dos outros candidatos. Quando eles chegaram a casa, a Mana Lu convidou toda a gente a ir à capela rezar. Os candidatos ao verem aquela quantidade de arroz e comida choraram de alegria, louvaram a Deus pelas suas maravilhas e deram graças pela Sua generosidade.

Muitas histórias ela me contou e em todas elas teve sempre algo em comum, nunca deixar de acreditar em Deus, Ele é que nos guia na nossa vida, Ele é que sabe o que é melhor para nós e só n’Ele é que está a felicidade eterna.

Saí do retiro revigorado, com um espírito renovado. Sempre que lia as fontes franciscanas, principalmente as biografias de S. Francisco, ficava a pensar como terá sido viver com S. Francisco e Sta. Clara, como terá sido conviver com eles, beber directamente do seu espírito, sentir a sua fé em Deus, ser pessoalmente iluminados pela sua luz. Pois vos digo que já não penso mais nisso, depois de conhecer a Mana Lu obtive todas estas respostas que não se explicam por palavras, mas só se conseguem sentir, tanto na alma como no coração.

Estes somos nós com a Mana Lu, uma mulher espantosa {#emotions_dlg.happy}

 

Paz e bem amiguinhos! Estaremos juntos na oração e no coração.{#emotions_dlg.heart}

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por missao em timor às 01:05


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