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Missão em Timor

Durante 3 anos estarei a fazer uma missão em Timor, pela Ordem dos frades menores capuchinhos, e neste blog tenciono contar todas as minhas aventuras e a percepção que vou tendo dos acontecimentos, tudo de uma forma peculiar que só eu sei viver :D



Quarta-feira, 06.02.13

Ensinar? Quem? Eu? Nah!!!! É melhor não...

Olá amiguinhos! Eu tenho-vos falado das maravilhas que é Timor e do paraíso que tem sido viver por cá, mas infelizmente nem tudo é um mar de rosas. Para mim até tem sido, mas olhando à minha volta, vendo a realidade deste povo deixa-me angustiado. Timor é um país com apenas 10anos de independência, está “habituado” a viver no meio da guerra, primeiro com o colonialismo português e depois com a invasão indonésia. Apesar do país ter petróleo, os benefícios não entram todos nos cofres do estado, são explorados por outros países/entidades… No meio disto tudo é o povo quem mais sofre. Apesar de já se começar a ver construções de casas em cimento, tijoleira no interior e telhados de zinco, a maioria das pessoas ainda têm casas de madeira, muitas delas com grandes buracos entre as tiras, cimento não trabalhado no chão, ou até mesmo terra, e telhados feitos com folhas de palmeira… A semelhança em todas as casas é a não existência de divisões no interior ou de portas, no máximo têm uma cortina…

Uma coisa que me chocou bastante foi quando fui levar o lixo à lixeira. Ao chegar lá deparei-me com meia dúzia de crianças que deliraram quando viram o carro a chegar. Ainda pensei que fosse por ser o carro do Sr. Padre, mas logo me apercebi que estava errado… O que lhes interessava mesmo eram as latas de sumo e conserva que iam ser depositadas no lixo. Muita gente, desde crianças a adultos, vão todos os dias para a lixeira na esperança de encontrarem algo que consigam vender para arranjar dinheiro e como se isto já não fosse chocante, custa ainda mais saber que tem dias que eles passam uma manhã inteira no meio da porcaria para conseguirem uns míseros 50centavos… Isto é que é ver a humanidade a bater no fundo, no mais baixo da sua dignidade… é chocante presenciar este cenário…

Voltando à minha aventura, chegou 2013 e duas semanas depois, dia 14 de Janeiro, iniciam-se as aulas. Confesso que estava ansioso, pela primeira vez vou ser o aluno estrangeiro… é quase como fazer um Erasmus… Tudo começou muito em cima do joelho, não sabia ao certo em que ano ia ficar, que disciplinas ia fazer nem quais as equivalências que ia ter… digamos que tudo começou não a meio, mas a um terço de gás… até porque 3 foi o nº de aulas que tive na 1ª semana… Estava pronto para o meu primeiro dia de aulas, mas o entusiasmo inicial rapidamente virou frustração, todos os dias percorro cerca de 4km de costa marítima, todos os dias passo pelas lindas praias de Tacitolo e todos os dias olho para aquele mar limpo e quentinho e não posso dar um mergulho… {#emotions_dlg.snob}

Ainda estava em casa quando começaram a aparecer as contrariedades, os frades que estudam comigo avisaram-me que seria melhor vestir uma camisa, porque não costumam deixar entrar no instituto de t-shirt… ah pois é, aqui as instituições são muito rigorosas com a apresentação, tudo de calças, camisa e sapatos, ou sandálias (isso ainda vão permitindo)… {#emotions_dlg.happy} Cheguei ao seminário acompanhado pelo frei Fernando e pelos freis Manuel, Gesuíno e Nicolau (colegas de formação de pós-noviciado). Vieram logo todos os estudantes ter comigo para me cumprimentar, foi uma alegria, e os mais corajosos ainda tentavam falar comigo em português… foi muito bom, senti-me verdadeiramente acolhido entre eles… mais tarde vim a saber que eles pensavam que eu era um professor e não um aluno, daí o entuiasmo… {#emotions_dlg.happy} Mas não desistiram da ideia de me verem ensinar, logo no final do primeiro dia de aulas reuniram par decidir se seria proveitoso ou não eu dar-lhes aulas de português nos dias em que algum professor faltasse… apesar de os furos serem constantes, ainda não dei nenhuma aula… Todos os dias vêm ter comigo, perguntam-me se tenho alguma coisa sobre as matérias que temos vindo a aprender e eu vou dispensando tudo o que tenho. É fantástico, eu procuro estar no meio deles, eles procuram estar comigo, vamo-nos comunicando e português, tétum e algum inglês (quando falha a palavra em pt) está a ser uma boa troca de culturas. Perguntam-me de tudo, quantos seminaristas há em Portugal, como é o estudo por lá, se há muitas vocações, como é viver em Pt, todas as perguntas imaginárias e inimaginárias eles fazem… Ultimamente têm em começado a pedir livros. Sempre que levo um livro para o instituto eles perguntam logo o preço, onde o comprei, como é que eles o podem comprar, se lhes posso emprestar para tirarem fotocópias… ao principio ainda pensei que fosse por interesse pela leitura ou para aprofundar a matéria das aulas, mas a partir do momento que eles me pediram para lhes emprestar um livro que é um curso de tétum em inglês, percebi que eles pedem por pedir, até porque quem mo pediu já sabe falar tétum e não percebe quase nada de inglês (e não, não dá para aprender inglês a partir daquele livro, só o contrário). Como o livro está em inglês e é muito bom, decidi traduzi-lo. Ainda só traduzi 3 capítulos, mas já tenho gente interessada em ver o resultado final, espero que não se desiludam… {#emotions_dlg.blushed}

As aulas começaram bem, o primeiro professor era brasileiro, logo a aula foi 100% português, o segundo, apesar de ser timorense, também só falou português (de vez em quando explicava alguma coia em tétum para que o pessoal entendesse melhor), mas a partir da aí a coisa complicou… na segunda semana de aulas apareceu mais um professor e, por mais que lhe tenha pedido, não valeu a pena, as aulas vão ter de ser irremediavelmente em tétum, ele fala tanto português como eu tétum… o pior é que vai ser meu professor em duas cadeiras, pelo menos… Esta semana aproveitei um dos furos do meu horário (dispensaram-me de ter aulas de português. Não sei porquê, se fosse marroquinês ainda entendia já que sou marroquino, agora português…) para fazer mais uma cadeira, mas já me começo a arrepender, o professor é indonésio e na aula fala tétum (90% das vezes, indonésio 7% das vezes, inglês 2% das vezes e português 1% que é quando diz bom dia ou alguma palavra em tétum que coincida com o português) … Felizmente para mim as sebentas são em português ou brasileiro (como são antigas não têm ainda o acordo ortográfico) {#emotions_dlg.tongue}

Bom amiguinhos, as aventuras por cá têm sido fantásticas, tenho adorado a experiência que estou a viver do outro lado do mundo estou a ficar fascinado com esta nova cultura e, apesar de já terem passado 4meses eu espero que os 3 anos previsto para a minha estadia cá não passem a correr, quero aproveitar cada minuto por cá que são mesmo únicos {#emotions_dlg.happy}

Desculpa maninha, eu sei que estás ansiosa por me apresentares o Rodrigo que vai nascer, no máximo, no próximos mês, mas eu estou mesmo a adorar estar por cá…

PS: Rezem por ela e para que o parto corra bem e que o Rodrigo nasça saudável. Não será por falta de amor da mãe, dos tios e dos avós que isso não acontecerá. Apesar da distância, tenho acompanhado, através de sms e internet, a gravidez dela e confesso cheguei a ter um pouco de inveja por ter rejeitado a criar tão maravilhoso milagre, mas consolo-me por tê-lo feito por um bem maior… Se ela escrevesse um blog seria dos melhores blogs sobre a relação entre mãe e filho desde o ventre materno alguma vez feito… Estou radiante e muito feliz por ela. Tenho a certeza que ela será a melhor mãe do mundo, quer dizer, a segunda melhor mãe do mundo, a melhor (empatadas) continuam a ser as minhas mães (sim, tenho mais que uma e a 3ª é Nossa Senhora).

Paz e bem amiguinhos! Estaremos juntos na oração e no coração {#emotions_dlg.heart}

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por missao em timor às 03:01


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